quarta-feira, 21 de setembro de 2011

ÚLTIMA GUARNIÇÃO DA NRP "COMANDANTE JOÃO BELO".




A FRAGATA, NRP "COMANDANTE JOÃO BELO", DEDICA ESTA PUBLICAÇÃO À SUA ÚLTIMA GUARNIÇÃO




Homenagem  à última Guarnição da NRP "COMANDANTE JOÃO  BELO". (2008)




Enquanto a NRP "COMANDANTE JOÃO BELO", segue em direcção a Sidney, a 1ª Guarnição, decidiu, homenagear a ÚLTIMA Guarnição deste vaso de guerra da Armada Portuguesa, com a publicação neste blog destas fotos. Esta guarnição, aplicou-se, orgulhosamente, com dignidade e apreço, para a transferência da nossa Fragata, para a Marinha de Guerra do Uruguay.

A História da Fragata" CTE JOÃO BELO", não se esgota aqui. Continua a navegar nos anos setenta.

A sua história de 40 anos de vida ao serviço da Armada Portuguesa, vai continuar a ser publicada. Talvez  passe além fronteiras. Vamos aguardar,  que eu tenha, melhor informação sobre a sua real situação.


NESTA FOTO, EM SIMON'S TOWN, ÁFRICA DO SUL, DOIS ELEMENTOS DA GUARNIÇÃO  DA
EX-FRAGATA JOÃO BELO (ROU URUGUAY )
SARG - ETC SANTOS E O CABO - CRO MAIA RIBEIRO


NOTA :- Acompanharam a ex- NRP Cte Sacadura Cabral, (Rou "Cte Pedro Campbell), mais dois elementos da ex- Fragata Cte João Belo:- Sarg ETC Reis Neto e o Cabo CRO Gonçalves Antunes.

FREDERICO REIS NETO
PEDRO GONÇALVES ANTUNES






                                               









NOTA DO BLOGUER



 Eis o relato  verídico, de dois companheiros de armas, que acompanharam a  ex-Fragata Cte João Belo e a ex-Cte Sacadura Cabral, conforme acordado pelas Marinhas dos dois países, devidamente explicado neste texto. Grato pela vossa resposta ao pedido de colaboração, enriquecendo deste modo o nosso blog.

António da Silva Martins, Mar. Radarista nº1330/66



NRP "Cdte João Belo"-F480
(Fonte 21º CFORN (reservanaval)








NRP "Cdte Sacadura Cabral"-F483
(colaboração de Jean Pierre)

















OS ÚLTIMOS DAS GUARNIÇÕES
( Sentimento de dever cumprido)



Ex-NRP "CTE JOÃO BELO,( a navegar com Bandeira do URUGUAY),
 com outro número de amura"1" e com o nome "ROU Uruguay".

Fragata da Marinha do Uruguai, saindo de Lisboa.
"ROU COMANDANTE  CAMPBELL - 2"

REIS NETO
No âmbito do processo de venda das Fragatas classe ”Comandante João Belo” à Marinha do Uruguai, fomos quatro portugueses a bordo de ambas as fragatas, que passaram a ter o nome ROU “Uruguay” (Ex-NRP “Comandante João Belo”) e ROU “Comandante Pedro Campbell” (Ex-NRP “Comandante Sacadura Cabral”), para dar apoio na área de comunicações de bordo, mais concretamente na área do Sistema Integrado de Comunicações. Embora todos os quatro elementos fizessem parte da guarnição no NRP “Comandante João Belo”, eu e o Cabo CRO Antunes seguimos no ROU “Comandante Pedro Campbell”, ficando os outros dois elementos no ROU “Uruguay”. O acompanhamento era, inicialmente, para ser efectuado até ao Uruguai, com paragens em Cabo Verde para reabastecer, na África do Sul para participação no ATLASUR e também havia a possibilidade de uma breve escala no sul do Brasil para efectuar uma faina de munições.
Relatarei agora mais concretamente a viagem rumo ao Uruguai. Antes de mais nada, quero salientar que houveram comentários bastante negativos em relação à alimentação de bordo e quero veemente discordar destes. É um facto que na semana em que foi efectuada a navegação após a entrega, a alimentação deixou muito a desejar (eu próprio a critiquei). Mas a razão foi que a ementa implementada a bordo foi a portuguesa e claro que, não sendo o Uruguai um país de dieta mediterrânica, os cozinheiros “estragaram” as refeições, visto não terem o conhecimento para as cozinhar. A partir do 25 de Abril (data da largada rumo à África do Sul) e já com apenas os quatro militares portugueses a bordo, a alimentação foi muito boa. Isto, claro, seguindo a dieta deste país, que é à base de massas, muito semelhante à italiana. E para quem aprecia massas (tal como eu), a alimentação foi excelente! Mas devo concordar que após 21 dias de navegação, já sentia imensa falta de um peixe cozido e de uma bela sopa. A tal ponto que, por estarem sempre a ouvir-me queixar que nunca se comia peixe, alguns elementos da guarnição, por piada, pegaram em alguns peixes-voadores (que abundavam na costa Africana e por diversas vezes saltavam para o convés) e confeccionaram um prato de peixe-voador exclusivamente para mim. Saliento também que nunca houve qualquer problema em reforçar a refeição e havia doce três a quatro vezes por semana (coisa que na nossa Marinha não se passa) e a todos os dias 29 do mês existia uma tradição que é o NHOQUE (http://pt.wikipedia.org/wiki/Nhoque). O mais engraçado desta tradição é que o alimento era feito com a ajuda de todos os elementos da guarnição que quisessem participar. Nós próprios ajudámos na elaboração desse prato tão típico. Penso que na nossa Marinha era interessante existir uma prática semelhante, porque nesse dia toda a guarnição se juntava e confraternizava. E devo dizer que o prato era bastante bom!
Quanto à camaradagem, foi excelente e sempre existiu imenso respeito por nós. Se me pedissem para descrever os uruguaios, eu diria que são um povo bastante hospitaleiro e atencioso, do camarada mais jovem ao mais velho. Vários foram os elementos que nos ofereceram estadia para a data da suposta permanência que iriamos ter no seu país, coisa que eu não sei se aconteceria se a situação fosse inversa. Todos se preocuparam com o nosso bem-estar e ouviram pacientemente as nossas mágoas, provocadas pelas saudades que já tínhamos da família, mesmo estando eles já há três meses afastados das suas. Tenho muito a agradecer neste aspecto e penso que posso falar pelos meus outros três camaradas.
Outra experiência inolvidável foi ter feito a minha primeira travessia pela linha do equador. E, apesar de ter sofrido um “pouco” (ironia...) na pele a tradição Uruguaia (que tem algumas diferenças da nossa), só devo dizer que foi uma festa excelente. Ah, e fiquei com um look bem extravagante! O camarada que me acompanhou filmou toda a cerimónia, guardando assim provas do “crime”. Devo dizer que a minha participação foi voluntária e esteve sempre a ser supervisionada pelo Comandante (uma excelente pessoa). Já à noite, na tolda do navio, e com grande parte dos elementos da guarnição com um visual idêntico ao do famoso árbitro italiano Pierluigi Collina, houve direito a um diploma que comprovou o baptismo do Rei Neptuno pela nossa primeira passagem no equador.
Em relação à missão propriamente dita, esta correu muito bem até à data do infeliz acidente. Foram realizados vários exercícios de manobra com ambas as fragatas, mas, como se costuma dizer, acidentes só não acontecem a quem não anda no mar. Portanto, só tenho a dizer que, realmente, as condições ambientais não eram as mais favoráveis, visto estarmos a atravessar vários bancos de nevoeiro e a noite estar bastante escura. É um facto que a fragata está equipada com equipamentos de apoio à navegação e acredito que o acidente podia ter sido evitado, mas não vou comentar acerca dessa questão, porque, além de não ser a minha área, não quero fazer juízos de valor.
  O acidente propriamente dito foi uma sensação estranha para mim (foi o primeiro que vivi e espero ter sido o último). Estava a jantar no momento e senti um grande abanão. Como estávamos a uma velocidade razoável, passou-me pela cabeça que tinha acontecido algo com a máquina. Mas um segundo abalo aconteceu, sendo este muito maior que o primeiro. O que me ocorreu foi que tínhamos batido no fundo, porque o navio parou repentinamente. Mas logo concluí que era impossível, pois estávamos em mar alto (a 70 milhas da costa da Namíbia). Logo comecei a ouvir gritos e vozes no E.T.O. a alertar que tínhamos sido abalroados pela ROU “Uruguay”. As fragatas bateram primeiro de proa e depois encostaram uma com a outra. Como o camarada que se encontrava a bordo comigo não estava ao pé de mim, a minha primeira reacção foi procurá-lo. Felizmente, ele também agiu da mesma forma, por isso encontrámo-nos rapidamente. Como o camarada estava na tolda e presenciou tudo (ele sim, apanhou um valente susto!), fomos logo vestir o fato de embarque e envergar o colete (acho que nunca o fizemos de forma tão rápida como nessa noite!). Devo dizer que a guarnição prontamente tomou as medidas necessárias para um acidente daquele tipo, apesar de terem existido sinais de um certo pânico em alguns elementos, que chegaram a ocupar postos de abandono J . Como é normal, dirigimo-nos à ponte para tentar perceber o que tinha acontecido. O próprio Comandante colocou-nos a par da situação e, para nosso alívio, conseguimos perceber que já estava tudo controlado. Não tendo ainda dobrado o Cabo das Tormentas (da Boa Esperança, é certo... mas naquela altura eu apenas conseguia chamá-lo de Cabo das Tormentas), estava com receio de navegar, devido ao grande rombo na proa, mas felizmente o estado do mar ajudou. Após 21 dias de navegação, chegamos à Base Naval de Simonstown (perto da Cidade do Cabo). Aí foi efectuada uma perícia aos estragos, tendo-se concluído que a ROU “Uruguay” estava apta para fazer o ATLASUR, como estipulado. E, de facto, fez o exercício com alguns “remendos” no seu costado. Após o ATLASUR, o próximo passo era a reparação das fragatas. A ROU “Comandante Pedro Campbell” tinha, além do rombo, algumas balizas tortas. Mas, apesar do aspecto (devido ao rombo), era a ROU “Uruguay” que estava em pior estado, visto que tinha muitas balizas tortas (16 pelo que diziam).
Existiu um grande impasse na reparação e a nossa estadia acabou por se prolongar muito para além do que inicialmente estava previsto. O tédio tornou-se uma constante, e começámos a passar bastante tempo fora dos navios, visto que os nossos serviços muito raramente eram requisitados. Montámos “acampamento” num restaurante chamado “Cafe Pescado”, que tinha rede wi-fi e que nos permitia estar em contacto com as nossas famílias. Por passarmos a ser caras familiares nesse bar/restaurante, acabámos por estabelecer um relacionamento de proximidade com a dona e as empregadas. A dona desse bar (de nome Claire Ryan), demonstrou grande hospitalidade e simpatia para com todos nós. Tinha a paciência de manter o bar aberto até mais tarde para que os camaradas Uruguaios vissem jogos de futebol do seu campeonato (a horas tardias, pela diferença de fusos horários). A nós, portugueses, colocou o seu carro à disposição. Oferta essa que gentilmente recusámos, pois na África do Sul circula-se “à inglesa” e tínhamos medo de a nossa inexperiência se transformar em algum embaraçoso acidente. No entanto, sacrificou um dos seus dias de folga, e levou-nos todos a ver os principais pontos turísticos da zona. Também tivemos a inesquecível experiência de nos deslocarmos de combóio até à Cidade do Cabo. A primeira viagem, feita em 2ª classe, foi bastante típica (se é que podemos chamar-lhe isso...). No regresso, já viemos de 1ª classe, que era bastante menos “típica” e muito mais sossegada.
Mas, tirando essas pequenas aventuras, o nosso dia-a-dia era cada vez mais monótono e as saudades de casa começavam a apertar. Como a reparação das duas fragatas não tinha ainda um final à vista, acabámos por pedir para regressar a Lisboa. Regresso esse que aconteceu no dia 7 de Julho. Fomos de avião até Munique, onde perdemos o avião para Lisboa e nos vimos obrigados a pernoitar no Aeroporto. Devemos isso à “simpatia” e “competência” de alguns funcionários do aeroporto de Munique, que não nos dispensaram de certas burocracias, o que fez com que perdêssemos o nosso vôo. No entanto, sobrevivemos à “hospitalidade germânica” e voltámos para junto das nossas famílias.
(Brasão do URUGUAY)
No final de tudo penso que a nossa missão foi alcançada, apesar de esta não correr de acordo com o expectável, ficando assim com o sentimento de dever cumprido. Para além de ficarmos também com uma recordação muito positiva desta “aventura” vivida por quatro Portugueses. Quero também deixar um bem-haja a todos os camaradas Uruguaios, que sempre nos apoiaram e que nunca nos deixaram com um sentimento de deslocados. Trataram-nos como um deles. Trataram-nos como irmãos, porque apesar de termos nacionalidades e costumes diferentes, ambos enveredamos por uma vida de mar, vida de marinheiros.
 Apesar de escrever na primeira pessoa, este texto foi elaborado em conjunto com o excelente profissional e camarada Pedro Antunes, espero que consigamos exprimir bem a nossa aventura e um até breve.
1ºSAR ETC Reis Neto
     CAB  CRO  Gonçalves Antunes.



Peixe voador, que aterrou no convés da Fragata  Comandante João Belo.
(1970)
Foto cededida por  José Joaquim dos Reis Vieira ( BIANA), Mar. Elect.,
 da 1ª Guarnição.
(Base Naval de Lisboa, Abril de 2008


A Ex-Fragata Cte João Belo, após a sua saída de Lisboa (Portugal),
 já com bandeira do Uruguay.



sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Saída de Sydney, rumo a Brisbane




SAÍDA DE SYDNEY,  RUMO A BRISBANE


A Fragata João Belo, no rumo certo.
( Foto de  Leonel Gonçalves)




A Fragata Comandante João Belo,  a sair da Baía de Sydney. (1970)
Fonte - Blog "Barco à Vista"


                                      
                                                          CHEGADA A BRISBANE
 


 


A NRP "COMANDANTE JOÃO BELO", em 01/05/1970, pelas 16h00, zarpou de Sydney, com destino a BRISBANE, onde permaneceu até 08/05/1970 às 06h00. Aqui, também tivemos convívios com a Comunidade Potuguesa local, mas em menor numero, em relação a Sydney.
 Neste porto, mais oito camaradas decidiram desertar, procurando uma vida melhor! Não se apresentaram a bordo, o Mar. C  Nicolau, Mar. C Manuel Martins Nobre, Gmt. A  ? (veio da NRP Alvares Cabral),  Gmt E  Nuno António Faustino Pereira, Gmt L  Pedro Amorim Gonçalves Pinto,  Gmt M  Álvaro da Silva Costa ( O Boticas), Gmt A  Telmo e o Gmt L Oliveira.

 O caso de deserção com mais relevo, foi a de um camarada, que estava na escala de serviço no dia da fuga, e como não podia sair, decidiu, durante a noite, prender um cabo num dos balaustres da proa, por onde desceu, deixando no convés a farda militar. Constou-se e penso que foi verdade, que transportou a roupa civil, dentro de um saco de plástico, segurando-o com os dentes, para nadar, até alcançar umas escadas encastoadas na parede do cais.

No total foram dez as deserções. Consta que um dos desertores, o Gmt L Oliveira,  foi apanhado pelas autoridades australianas e recambiado para Portugal. Quando a Fragata chegou a Lisboa, em 07/12/1970, lá estava o nosso companheiro de armas, à espera da Fragata para dar as boas vindas à Guarnição!!!

António da Silva Martins, Mar. Radarista nº 1330/66.


Várias vistas de Brisbane, a capital do Estado de Queensland.
(1970)



The Vctoria and William Jolly Bridges
(1970)



Brisbane, é a capital do estado de Queensland. Fica a uma hora de carro, de Gold Coast e Sunshine Coast,
 onde se situam algumas das praias mais famosas da Austrália.

A sua beleza, não está limitada só às lindas praias que nos oferecem. O seu interior, também é digno de ser apreciado, pelas belas paisagens que podemos disfrutar, sem cansar!!!




Neste mapa, estão descritas as curtas distâncias, entre BRISBANE e as restantes zonas turísticas supra mencionadas.

ALGUNS REGISTOS, DAS BELAS PAISAGENS AUSTRALIANAS, DA MINHA COLECÇÃO DE POSTAIS ILUSTRADOS,  ADQUIRIDOS EM   1970.  ( GOLD COAST)

Bird's eye view of Surfers Paradise, Gold Coast.


Springbrook. The Gold Coast from Goomoolahra Falls.



CURRUMBIN  Creec, on the Gold Coast.


Numinbah Valley. Natural Arch from inside the cave.


Numinbah  Valley, Forestry Reserve.



Gold Coast (Queensland)




Jardim Zoológico privado, em  QUEENSLAND  (Brisbane)
( 1970)



Em todos os portos australianos, tivemos uma recepão muito amistosa. Fomos sempre bem recebidos, tanto pela Comunidade Portuguesa, como  pelas autoridades Consulares, Militares e Civís, não esquecendo a população australiana.

Na foto, alguns membros da guarnição, em visita a um Zoo, no interior do Estado de Queensland, espantados com a coragen do Martins pegar numa cobra com cerca de dois metros. A sensação que causa, quando se desloca sobre a nossa pele, é um pouco arrepiante!!!

Caros amigos estamos para zarpar deste porto (08/05/70), rumo a FREMANTLE, onde nos iremos encontrar brevemente.

António da Silva Martins, Mar. Radarista 1330/66.


Australian Kangaroo and young  Joey.










quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Convívios em Sydney.





Baile convìvio oferecido, a todas as guarnições dos navios representadas nas Comemorações,
pela Marinha Australiana.(1970)





                                                           
                                           A Ponte que atrvessámos para o subúrbio GLABE.






                                    BAILE CONVÍVIO 







A nossa estadia em Sydney prolongou-se por sete dias na sua maioria ocupados por convites para eventos, de diversas entidades oficiais, militares e civis.
Além dos convívios que as fotos representam, outros se sucederam, dos quais não consegui registos fotográficos.
Resta-me portanto, falar sobre as que foram publicadas.
 Na foto acima deste texto, refere-se a um baile, cujos convites foram enviados para bordo de todos os navios, representados nas Comemorações do Captain Cook, mas racionados. Competia ao Comandante de cada navio fazer a sua distribuição pela sua guarnição.
No meu grupo de três amigos, que habitualmente saiamos juntos, o Magalhães foi o único a quem foi distribuído um convite para o respectivo baile, que tinha início pelas 22h. Ao Martins saiu-lhe um convite, para um passeio turístico pela cidade. Ao nosso amigo Salgado, não me recordo da sua sorte nesse dia.
Como só o Magalhães tinha convite para o baile, combinei com ele um encontro junto à porta de entrada, onde se realizava esse evento, penso que na Base Naval da Marinha Australiana.
As entradas eram controladas para verificarem os convites. Como o Martins, não era possuidor de título válido, foi-lhe barrada a entrada, e o meu amigo Magalhães, foi solidário com o seu camarada e não entrou.
Como falava um pouco de inglês, passado algum tempo, fui sensibilizar o controlador, sobre a má situação em que iríamos ficar. A sua consciência abriu-se e lá cedeu à nossa vontade! Retribui-lhe, o favor, com um grande abraço e um aperto de mão.
Quando entrámos naquele mega salão, disposto sobre o comprido, ocupámos uma mesa deserta, com diversas cadeiras, onde nos acomodamos, estudando e apreciando o ambiente formado por muitas culturas e línguas diferentes.
Os homens eram todos marujos e fardados. Da parte feminina, não se avistava alguém com farda, mas soubemos que umas eram marinheiras e outras funcionárias da base.
As bebidas eram oferecidas até às 01h00, a partir desta hora, tudo o que se consumisse seria a pagar.
Na nossa mesa, como sobravam lugares, juntaram-se a nós três marinheiros franceses, dois dos quais, eram conhecidos do Magalhães, da Base Naval em Lorient, onde foi construída a Fragata João Belo.
Na nossa frente, estava uma mesa com marinheiros ingleses da Royal Navy, acompanhados de algumas beldades femininas, as quais se encontravam de frente para nós.
Não tardou muito tempo, talvez por efeitos da bebida, que se iniciou alguma confusão, originando a que duas dessas beldades, desertassem dessa mesa, para se juntarem a nós. Uma sentou-se ao meu lado e a outra ao lado do meu amigo!
Quando sentimos que a companhia feminina, nos tinham preferido, talvez por serem só dois portugueses, o Magalhães, amigavelmente solicitou aos marinheiros franceses, que procurassem outro lugar, ao que eles muito compreensivelmente responderam, abandonando os lugares que ocupavam.
Enquanto os marinheiros ingleses ainda barafustavam na nossa direcção, optamos por nos levantar e seguir para a pista de dança, onde permanecemos durante bastante tempo, dançando ao som de uma Orquestra de Sydney.
Seriam 04h30, quando as nossas amigas decidiram convidar-nos a abandonar o baile e dar um passeio matinal pela cidade. Aceitámos o convite e lá fomos para a viatura.
Não posso dizer se gostei ou não do passeio, porque nem sequer sabia onde andava! Lembro-me de termos passado a ponte sobre o Rio Parramata, próximo do porto, e que do nosso lado direito ficava a “Opera House”, em direcção ao subúrbio Glabe.
Comemos alguma coisa, num posto de abastecimento de combustível e de seguida, pensando nós, que nos iriam levar para bordo, mudaram de rumo e alguns minutos depois estávamos a entrar numa vivenda!
Escusado seria dizer, que não tivemos outra hipótese, senão acompanhar as nossas amigas, e por lá fomos permanecendo até que nos trouxessem para bordo da Fragata João Belo. Não tivemos tempo para dormir! Estávamos preocupados, porque, devíamos estar a bordo à meia-noite e não tínhamos pedido a dispensa de recolher!
Já eram 08h00, quando elas decidiram levar-nos para bordo, já com o pequeno-almoço tomado.
Chegamos ao cais e largaram-nos próximo do portaló. Verifica-mos que do outro lado íamos ser recebidos pelo Oficial de dia! Não contávamos com uma recepção tão importante… O Magalhães ainda se apresentava, mais ou menos decente, mas o Martins, não tinha o uniforme completo! Faltavam; um sapato, o alcahce, a fita do boné e a manta de seda.
Apresentámo-nos, a grande custo, naquela triste figura, ao Oficial de dia, e já a pensar num forte castigo.
Fomos chamados ao Oficial, que tinha acabado de ser rendido, para justificar-mos o nosso estado e o atraso do recolher a bordo. Não havia desculpas nem justificações plausíveis. Eu, como estava em pior estado de apresentação, fui o 1º a ser ouvido, mas sempre na presença do outro personagem.
Tive que inventar uma história, para ver se pegava. E então disse; "Senhor Tenente, ontem eu e o Magalhães, não esperávamos vir tão tarde, mas fomos a um baile e a certa altura, fomos convidados por duas amigas, que dançaram connosco, a entrar na sua viatura, o que nós aceitamos, sem vacilar!!! A partir daí, passámos a estar à disposição delas, como reféns! Só nos libertaram à hora que nos apresentámos ao Senhor Tenente! Portanto isto até foi um rapto!"
O Magalhães nem chegou a ser ouvido. Após as minhas declarações ao Oficial, ele sorriu-se, dizendo para termos mais cuidado com esse tipo de raptos e lá nos absolveu! Que sorte termos encontrado um Oficial de dia com tal carácter.
Pois é. Isto não ficou por aqui! Antes do meio-dia, já as nossas amigas estavam junto ao portaló à nossa espera para irmos almoçar.
Após o Almoço levaram-nos até à casa dos seus familiares, a quem fomos apresentados.
Estávamos um pouco inibidos com esta situação, mas os próprios pais nos puseram à vontade, oferecendo um grande lanche, sorrisos e umas anedotas. E no final um grande abraço de despedida.
Caros amigos, em 1970, na Austrália, já as liberdades femininas, eram bem aceites pela família e toda a sociedade em geral.
Mais uma estória verídica passada na minha juventude, a bordo da Fragata Cte João Belo.
António da Silva Martins, Mar. Radarista nº 1330/66


Quatro amigas, na Austrália, que gentilmente se deixaram fotografar, com a condição da nossa ausência na foto!!!
Só ficou a nossa marca no campo inferior direito!!!
(1970)


                                  

Ponte sobre o Rio Parramatta em SYDNEY.
(Imagem da Wikipédia)


                      
                                                         OUTRO CONVÍVIO


Convivio, a  bordo,  com a Comunidade Portuguesa.

  





         CONVÍVIO NA FRAGATA, COM A COMUNIDADE PORTUGUESA EM SYDNEY



Por convite do Consulado Português em Sydney, certo dia, a Fragata Cte João Belo, abriu o seu portaló à Comunidade Portuguesa, residente em Sydney e cidades limítrofes.
Foi mais uma manifestação de consideração e apoio, por parte das autoridades consulares e da guarnição da Fragata, a toda a Comunidade Portuguesa emigrada na Austrália. Este acto, foi repetido noutros portos australianos.
As visitas a bordo, eram organizadas em grupos e guiadas por elementos da guarnição.
A certa altura, alguns grupos começaram a desmantelar-se, com a ausência do seu guia, e os desamparados, juntaram-se a outros até chegarem ao refeitório, o nosso ponto de encontro!
De todos os visitantes, alguns decidiram permanecer a bordo, e outros seguiram o seu destino.
Os que ficaram, talvez por saudades e necessidade de comunicar, prolongaram a sua permanência, por mais algum tempo, mais propriamente no refeitório, (a nossa sala de visitas)!
Como todo o marinheiro é hospitaleiro, resolvemos oferecer cervejas e outras bebidas fresquinhas aos presentes.
O convívio foi animando e alguém se lembrou em arranjar um petisco, para acompanhar a bebida! Como queríamos surpreender os nossos amigos emigrantes, tivemos, em boa hora, a ideia de falar com o Aurélio Nunes Mendonça, o cozinheiro de bordo, muito “bacano”, para nos arranjar bacalhau à Brás. Cedeu ao nosso pedido, chamou o “Totó”, seu faxina, e deitou mãos à obra!
Após a confecção do petisco, servimos os nossos amigos visitantes, em pequenos pratos, com “pikles”,  azeitonas e pão. O Aurélio também se juntou ao grupo. Os emigrantes ficaram radiantes com tal simpatia de os presentear com um prato tipicamente português.
As famílias presentes, quase todas vinham acompanhadas de seus filhos/as e outros parentes.
Durante o repasto, com o dialogo mais animado, lá íamos sabendo o que cada um fazia na Austrália, (Sydney e outras cidades costeiras). Na maioria eram empresários na área piscatória, com frotas de barcos de pesca e outros na comercialização do produto pescado.
Terminado o convívio, os nossos amigos seguiram a sua vida e nós planeamos a nossa saída nocturna.
Devido à amizade criada no convívio, alguns companheiros com mais sorte, quando saímos para terra, já tinham no cais viaturas à sua espera, próximo do navio.
No dia seguinte, o Oficial de dia, notou que a guarnição estava incompleta! Dois dos nossos camaradas não regressaram. O Mar. Clarim e um Grumete Manobra.
Como não apareceram até à hora da saída do navio, o Comandante resolveu adiar por duas horas a saída, na esperança que aparecessem. Como isso não aconteceu, foram considerados desertores, e o nosso Comandante deu conhecimento do assunto às autoridades locais.
Zarpámos de Sydney, em 01/05/1970, rumo a Brisbane (Austrália), onde atracamos em 03/05/70.

Prato tipicamente Português
BACALHAU  À  BRÁS


António da Silva Martins, Mar. Radarista nº 1330/66.













Cerimónia de transferência das fragatas da classe João Belo

Crédito:-  #marinhaportuguesa     https://youtu.be/CT6AobEi6IY