quinta-feira, 3 de novembro de 2011

NRP CTE JOÃO BELO, E A ESCOLTA AO PAQUETE PRINCÍPE


 (CAUSA DA ESCOLTA: - A BORDO DO PAQUETE SEGUIA O NOSSO PRESIDENTE DA REPÚBLICA O CALM-AMÉRICO THOMAZ).



HISTÓRIAS DE MARINHA E DE MARINHEIROS



Um dia no Porto de São Vicente, na bonita cidade do Mindelo, Terras de Cabo Verde, onde eu, Marinheiro Radarista, da Guarnição da fragata Almirante Pereira da Silva, me encontrava presente aconteceu uma situação que nos podia ter levado a todos à morte…
Encostados na muralha estavam dois Navios de Guerra da Marinha Portuguesa (com 26 bombas de TNT de 200 Kg. cada um) a aguardar o regresso a Lisboa do Presidente da República de então, Alm. Américo Tomás, que tinha ido fazer uma Visita Presidencial a São Tomé e Príncipe e que para lá tinha ido de Lisboa, a bordo do Navio da nossa Marinha Mercante “Príncipe Perfeito”!
Foi recebida uma comunicação rádio para nos deslocarmos à Ponta do Maio onde um navio de transporte entre as diversas ilhas de Cabo Verde e a Guiné, tinha encalhado num banco de areia e, onde se encontravam 116 pessoas, passageiros e tripulantes e mais um cão.
Comunicado o facto à Guarnição e com ela a postos, o Comandante, Cap. de Fragata Tomás de Melo Breyner, deu instruções ao Homem do Leme para introdução de velocidade e rumo de saída…
Acontece, porém, que o dito Homem do Leme, talvez por um nervoso miudinho já que não estava há espera que aquela situação lhe acontecesse, em vez de introduzir o rumo que lhe foi dado, introduziu um totalmente ao contrário e o navio acabou por embater na outra Fragata que ao seu lado se encontrava amarrada…
Mas, lá seguimos viagem até à Ponta do Maio… Os náufragos, entretanto, tinha-se deslocado para terra e assim que nós lá chegamos e ao largo pois não havia local para acostagem. Ao darem fé da nossa chegada, começaram a deslocar-se para o navio em grupos de cerca de 20 homens por embarcação miúda as quais, a ser em Portugal, nunca seria permitido para mais de meia dúzia de homens.
O navio encontrava-se cercado de tubarões e a sorte dos náufragos foi o mar chão que na altura se verificava…
Metidos a bordo e como eles estavam sem comer há várias horas foi-lhes servido um arroz de frango, juntamente com uma sopa (Canja) feita com os miúdos do frango…
Acontece que na sua maioria optaram por comer a canja e, entretanto, o mar encrespou-se e então era um mar de enjoados…
Chegados ao Mindelo, amarramos de novo junto ao outro Navio de Guerra ali presente e descarregamos esse povo mas, não nos esqueçamos do sofrimento em que nos encontramos entre a Ponta do Maio e esse Porto já que, com os vómitos constantes o piso plastificado do Navio tornou-se uma ratoeira para todos nós homens que estávamos habituados a ele mas não àquelas circunstâncias já que, raramente, os homens daquela Guarnição enjoavam e, assim, as quedas eram uma constante e dado os exíguos espaços de passagem e os apetrechos ali instalados, começaram as mazelas a aparecer… Não é que fossem de gravidade mas que doíam lá isso doíam…
Passados dias disto ter acontecido e como, entretanto, tinha morrido o Presidente do Conselho de Ministros, António Salazar e o Presidente da República tinha regressado a Lisboa em avião, reiniciamos a nossa etapa de regresso a Lisboa…
No dia seguinte e só com o pessoal de serviço em alerta e quando eram cerca de 5 horas da manhã, um barulho esquisito fez com todo o pessoal abandonasse seus leitos num ápice e a perguntar uns aos outros o que é que teria acontecido!
Ora, o torniquete que segurava a amarra junto ao Cabrestante com as pancadas que tinha levado na saída para a Ponta do Maio acabou por partir e toda a amarra de uma vez só, por não ter nada a segurá-la juntamente com o ferro de fundear foi num ápice até ao fundo do mar tendo antes disso feito um largo rombo junto à proa e no espaço consignado para Paiol das Tintas… Local onde muitos dos membros da Guarnição transportavam Serviços de Chã e de Café Chineses, para em Portugal venderem ou oferecerem aos amigos (Este foi o meu caso, ofereci à família e ainda, passados estes anos todos existem quase todas as peças, as quais iam no meu Cacifo, junto com outras coisas) os quais ficaram sem qualquer aproveitamento… E o navio ficou todo de esguelha virado para o lado donde se tinha soltado o ferro de fundear…
Não passou de um susto mas que foi um grande susto lá isso foi…
Comandante levantado junto ao Cabrestante e a ponderar todos os efeitos de tal problema… Mandou içar o Ferro e, depois de a amarra se encontrar toda em cima mandou, para não forçar o Cabrestante fazer uma amarra a todo o material com arame que no Paiol se encontrava…
Rumamos a Portugal e, ao passar junto às Ilhas Canárias o meu Comandante ainda tentou lá ir mas, como o outro era mais antigo tal não o permitiu e assim nenhum de nós teve a sorte de uma Ilha das Canárias vir a conhecer!
Chegados a Lisboa lá tivemos mais uma obrita para realizar… Tapar o rombo e arrumar as tintas que estavam espalhadas por todo o Paiol e que, muitas delas por terem rebentado as latas foi preciso apanhar… eram tintas grossas de piso e por isso deram muito trabalho não só as que se apanharam mas também aquelas que já tinham secado por acção das temperaturas ali estacionadas!

Marco de Canaveses, 28/07/2011 – 17H15
Armindo Loureiro – Ex-Mar. R nº 797/6

Paquete Príncipe Perfeito (Fonte-http://restosdecoleccao.blogspot.pt/)


NRP ALMIRANTE MAGALHÃES CORRÊA


NRP ALMIRANTE PEREIRA DA SILVA



NOTA DO BLOGUER
Esta escolta vai continuar, com a Fragata Comandante João Belo, de Cabo Verde (Mindelo) até ao Arquipélago de S.Tomé e Princípe.





Ilhéu das Rolas, ou Ilhéu Gago Coutinho, a Sul de S. Tomé


Bandeira Nacional de S. Tomé e Princípe







A NRP COMANDANTE JOÃO BELO, zarpou de Luanda, em 09/07/70, pelas 07h45, rumo a Cabo Verde, tendo atracado, no Porto de S. Vicente,(Mindelo) em 16/07/70, pelas 09h00.
 No dia 17, saiu para o mar pelas 08h00.
No dia 18, pelas pelas 18h00, deu-se o encontro com o Paquete Príncipe Perfeito, que seguia em viagem presidencial do CALM - Américo Thomaz para S. Tomé e Princípe, a fim de participar nas comemorações do "5º Centenário da descoberta do Arquipélago.


 O Paquete Príncipe Perfeito, foi acompanhado, pela Fragata João Belo, durante os dias 19, 20 e 21.

O paquete vinha escoltado pelas fragatas "Almirante Magalhães Correia" e "Almirante Pereira da Silva" que, à vista, abandonaram as suas posições de formatura e foram substituídas pela "Comandante João Belo", que foi ocupar a posição de escolta a 1.000 jardas à proa do "Príncipe Perfeito", depois de ter salvo ao Presidente da República, com 21 tiros e ter passado a BB do paquete, com a guarnição formada em postos de honras militares.
Em 22/07/70, pelas 10h00, deu entrada na Baía Ana Chaves, tendo ali fundeado. Terminada a faina, desembarcou o Presidente da  República e a Fragata João Belo salvou mais uma vez o Chefe do Estado Português. Permaneceu fundeada durante os dias 23, 24 e 25.
No dia 25/07/70 embarcaram a bordo da Fragata Cte João Belo, o Chefe do Estado, o Ministro do Ultramar, Dr. Silva e Cunha e altas entidades militares e civis. 
No dia 26, às 07h00, zarpamos rumo ao Ilhéu dos Pássaros, fazendo a circum-navegação da Ilha de S. Tomé.
No dia 27, rumamos para a Ilha do Príncipe, tendo o nosso Comandante Leonel Cardoso, entregue o Comando do Navio ao Sr Presidente da República, CALM Américo Thomaz. Não chegamos a atracar ou fundear na Ilha do Príncipe, devido à notícia da morte do 1º Ministro Prof. Dr António Oliveira Salazar, pelo que tivemos que regressar a S. Tomé, onde nos mantivemos fundeados durante o dia 28.
O estado do tempo não permitiu que o CALM-Américo Thomaz desembarcasse no Ilhéu Gago Coutinho, ( ou Ilhéu das Rolas), onde uma placa com o nome deste grande cartógrafo assinala o equador geodésico. Cruzou quatro vezes a linha equatorial como forma de lhe prestar homenagem ( Gago Coutinho). Em S. Tomé, esperava um pequeno avião, que os ia transportar para a Luanda e daí seguirem rumo a Lisboa. As Comemorações só se efetuaram na Ilha de S. Tomé.

António da Silva Martins, Mar. Radarista nº 1330/66





FRAGATA JOÃO BELO
Guarnição formada em postos de honras militares


Baía Ana Chaves, em S. Tomé

Porto na Baía Ana Chaves ( S. Tomé)

Monumento comemorativo da visita do Presidente da República de Portugal,
nas comemorações do 5º Centenário da descoberta de S. Tomé e Príncipe.
Cidade de S. Tomé 1970


Ilha de S. Tomé
Entrada para Vila das Neves, visitada pelo Presidente da Republica
1970



MOEDA COMEMORATIVA DO 5º CENTENÁRIO DA DESCOBERTA DE S. TOMÉ E PRÍNCIPE


Frente


Verso



ILHA DE S. TOMÉ.
vista parcial da cidade de S Tomé (1970)
Partial view of the San Thomé Town



ILHA DE S. TOMÉ
Pico Maria Fernandes (1970)
Peak Maria Fernandes


S. Tomé
Igreja da Sé (SÉC. XVI)
1970


S. TOMÉ
Praça João de Santarém (1970)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

COMANDANTE JOÃO BELO - LEIRIA, A SUA TERRA NATAL


Enquanto navegamos, rumo a Lourenço Marques (Moçambique), a Fragata Cte João Belo, informa os seus visitantes, o que vai acontecendo no presente, publicando o que entende ser de interesse para este  blogue.





Nome:  António da Silva Martins

E-mail: fragatajoaobelo@hotmail.com

Comandante João Belo
Sugestão:
Caros amigos, as minhas desculpas, por talvez não estar a usar o canal mais apropriado, mas foi a unica maneira que encontrei para tentar obter um esclarecimento, que para mim é importante. Sou coordenador do blogue, que está a contar a história duma fragata, que esteve ao serviço da nossa Pátria, durante 40 anos. Tive a informação, que em Leiria, existe uma rua, precisamente, a Rua Comandante João Belo. Dentro das vossas disponibilidades, desejava saber, qual a história dessa rua, para ter o nome de um notável "MARINHEIRO". O blogue a que me refiro pode ser consultado em: - (fragatajoaobelo.blogspot.com).
Os meus respeitosos cumprimentos,
António da Silva Martins



NRP  "Comandante João Belo" (1967)



O blogue da Fragata Comandante João Belo, agradece a cortesia e a preciosa colaboração, da Câmara Municipal de LEIRIA, em especial ao Sr Vereador da Cultura e Vice-Presidente dessa Câmara, Dr. Gonçalo Lopes.






Para:  fragatajoaobelo@hotmail.com (fragatajoaobelo@hotmail.com)

EXMO. SENHOR
ANTÓNIO DA SILVA MARTINS
Conforme solicitado por V. Ex.ª, informo que o topónimo supra, localiza-se na Freguesia de Leiria, com início no Largo Marechal Gomes da Costa e com fim na Rua de Alcobaça.
Informo que este arruamento, está identificado na planta da cidade de Leiria de 1809, por RUA DA ÁGUA e que por alvará do Governo Civil de 18-12-1877, foi-lhe alterada a denominação para Rua D. Fernando II.
Por deliberação camarária de 19-04-1911, passou a ser denominada por Rua Ferrer  e  por deliberação camarária de 05-01-1928, foi alterada a sua denominação para RUA COMANDANTE JOÃO BELO.
Mais informo, que o Comandante João Belo, nasceu em Leiria a 27 de Setembro de 1876, foi filho de António Pedro da Costa Belo e de Antónia Júlia de Nazaré Belo e faleceu a 3 de Janeiro de 1928.
João Belo, foi Capitão de Fragata tendo entrado nas campanhas de África. Sendo que,  a ele se deve a construção do caminho de ferro do Chai - Chai e do farol da barra do rio Limpopo.
João Belo, foi Ministro das Colónias e lançou as bases orgânicas da administração civil e financeira das províncias ultramarinas. Reorganizou a Escola Colonial de Lisboa e promulgou o Estatuto Orgânico das Missões Religiosas.
Ao dispor para os esclarecimentos necessários.
Com os nossos melhores cumprimentos,


DEPARTAMENTO DE PLANEAMENTO E ORDENAMENTO
TOPONÍMIA MUNICIPAL
CÂMARA MUNICIPAL DE LEIRIA
LARGO DA REPÚBLICA
2414 - 006 LEIRIA






Placa Toponímica-2012
(Foto de Tiago Pedrosa)

Panorâmica da Rua Comandante João Belo-2012
(Foto de Tiago Pedrosa)

LEIRIA - Do Claustro do Castelo, Vista Parcial da Cidade
Parcial view of  the City,  from the cloister of the Castle - 1974

LEIRIA - Rio Lis e vista parcial da Cidade - 1974
Lis River and partial view

LEIRIA - Vista geral da Cidade  - 1974
General view of the City


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

FRAGATA "CTE JOÃO BELO", A sua chegada e estadia em FREMANTLE.


The distinctive WA Maritime Museum building on Victoria Quay


ESTADIA EM FREMANTLE






Logo que foi terminada a faina de atracação, o Comandante do navio LEONEL CARDOSO, Cap de Frag., anunciou à guarnição, que naquela cidade só podiam sair de bordo os marujos casados.
Esta atitude do Comandante, não foi bem recebida pelos solteiros, tendo ido falar com ele sobre tal proibição. Justificou, e bem, o facto de já ter perdido 10 elementos da guarnição, todos solteiros, e que não queria perder mais nenhum, porque tinha que ter pessoal suficiente para navegar até Moçambique!!!
O nosso comandante, a título excepcional, deixou sair um solteiro, o Albino José Leitão, Marinheiro Radarista, ( a Ninfa da Festa do Rei dos Mares), a quem pedi para me comprar dois postais ilustrados daquela cidade, os quais serão publicados, para ilustração deste artigo.
Foi uma estadia curta, e pouco apreciada por quem não pôde pôr os pés em terra firme, depois de uma navegação longa e agitada! Serviu para recuperar algumas forças e partir para a etapa seguinte, até Lourenço Marques (Moçambique).


Town Hall Fountains and Shopping Centre (1970)


Main Shopping Centre (1970)

António da Silva Martins, Marinheiro Radarista, nº 1330/66





SAÍDA DE FREMANTLE, RUMO A LOURENÇO MARQUES.

O nosso percurso de Brisbane para Fremantle (Perth), foi durante 7 dias, a nossa chegada a FREMANTLE, foi em 14/05/70, às 13h00 (5 horas de atraso).
No dia seguinte, zarpámos rumo a Moçambique (Lourenço Marques) e navegámos em mar calmo e bom tempo durante 11 dias, numa rota quase sobre o paralelo.



A Fragata João Belo, a navegar em mar calmo, rumo a Moçambique.




quinta-feira, 13 de outubro de 2011

FRAGATA “COMANDANTE JOÃO BELO” (Rumo a FREMANTLE).

Malagueiro de proa um pouco agitado



A caminho de Fremantle, durante vários dias, foi um sofrimento.
(Foto de Benigno Pombo Fernandes, Sarg. ARE)





NAVEGANDO EM MAR-CHÃO E MAR AGITADO


Como informei no texto anterior, saímos de Brisbane em 08/05/70
Depois de termos contornado a "Grande Ilha",  por sul e sueste, metemos rumo a FREMANTLE, para ali reabastecer.
Durante esta viagem o navio teve que atrasar a chegada prevista, em virtude de termos apanhado ventos de força 8 e 9 e também mar muito grosso, por vezes muito alteroso. Foi neste trajecto, que a Fragata Comandante João Belo, enfrentou as altas vagas que faziam mergulhar a proa, mantendo-se nessa posição, tremendo, durante longo tempo, até que a popa assentasse para que as hélices continuassem a desempenhar a sua função.
Mudámos algumas vezes de rumo, para fugir ao mar revolto, e navegar mais próximo da costa. Nessa altura, as ondas começaram a embater no navio pela amura de BB e um pouco mais tarde atingiam todo o BB. O inclinómetro de BB/EB, chegou a ultrapassar os 45 graus!
Já durante a noite, com o mar ainda bastante agitado, os cacifos abriam-se, as garrafas com cerveja, soltavam-se para o chão da coberta cobrindo-o de vidros e cerveja e outros líquidos e alguns camaradas eram cuspidos dos seus beliches, deslizando no chão, ao jeito do balanço das ondas, sobre o líquido derramado e os vidros. Alguns dos que conseguiram permanecer nos seus leitos, desesperados com a situação, soluçavam, agarrados a fotos de familiares!
Não registei quanto tempo navegámos com o mar tão agitado, mas logo que entrámos em zona mais calma, quase a apanhar mar-chão, o pessoal restabeleceu-se e sossegou! Este episódio foi passado na 3ª coberta, onde eu dormia.
O susto passou, a noite acabou e deitámos mãos á obra, para limpeza da coberta, varrendo os vidros e limpando o chão com o lambaz.
A nossa navegação foi durante 7 dias, a maioria deles com mar nuito agitado, atracando em Fremantle em 15/05/70.

A designação que cito, neste texto como "ILHA GRANDE", refiro-me à  Austrália como país.

É a maior ilha do Mundo e tem mais de três vezes o tamanho da Gronelândia. Este país também é apelidado de "Cotinente Ilha" e ou "ILHA GRANDE".



Inicio do sofrimento. Malagueiro de proa, a caminho de fremantle
(Foto de BENIGNO POMBO FERNANDES, Sarg. ARE.)




Sul da Austrália, rumo a Fremantle.
(Foto de Benigno Pombo Fernandes)



A Fragata João Belo no seu inicio da mudança de rumo, já com o malagueiro um pouco de amura de BB.
(Foto de Benigno Pombo Fernandes,Sarg. ARE)



A Fragata João Belo a navegar em aguas mais calmas.


Depois da tempestade veio a bonaça (Mar-chão)



A Fragata Cte João Belo, ainda na sua fase original.

António da Silva Martins, Marinheiro Radarista, nº 1330/66.


quarta-feira, 21 de setembro de 2011

ÚLTIMA GUARNIÇÃO DA NRP "COMANDANTE JOÃO BELO".




A FRAGATA, NRP "COMANDANTE JOÃO BELO", DEDICA ESTA PUBLICAÇÃO À SUA ÚLTIMA GUARNIÇÃO




Homenagem  à última Guarnição da NRP "COMANDANTE JOÃO  BELO". (2008)




Enquanto a NRP "COMANDANTE JOÃO BELO", segue em direcção a Sidney, a 1ª Guarnição, decidiu, homenagear a ÚLTIMA Guarnição deste vaso de guerra da Armada Portuguesa, com a publicação neste blog destas fotos. Esta guarnição, aplicou-se, orgulhosamente, com dignidade e apreço, para a transferência da nossa Fragata, para a Marinha de Guerra do Uruguay.

A História da Fragata" CTE JOÃO BELO", não se esgota aqui. Continua a navegar nos anos setenta.

A sua história de 40 anos de vida ao serviço da Armada Portuguesa, vai continuar a ser publicada. Talvez  passe além fronteiras. Vamos aguardar,  que eu tenha, melhor informação sobre a sua real situação.


NESTA FOTO, EM SIMON'S TOWN, ÁFRICA DO SUL, DOIS ELEMENTOS DA GUARNIÇÃO  DA
EX-FRAGATA JOÃO BELO (ROU URUGUAY )
SARG - ETC SANTOS E O CABO - CRO MAIA RIBEIRO


NOTA :- Acompanharam a ex- NRP Cte Sacadura Cabral, (Rou "Cte Pedro Campbell), mais dois elementos da ex- Fragata Cte João Belo:- Sarg ETC Reis Neto e o Cabo CRO Gonçalves Antunes.

FREDERICO REIS NETO
PEDRO GONÇALVES ANTUNES






                                               









NOTA DO BLOGUER



 Eis o relato  verídico, de dois companheiros de armas, que acompanharam a  ex-Fragata Cte João Belo e a ex-Cte Sacadura Cabral, conforme acordado pelas Marinhas dos dois países, devidamente explicado neste texto. Grato pela vossa resposta ao pedido de colaboração, enriquecendo deste modo o nosso blog.

António da Silva Martins, Mar. Radarista nº1330/66



NRP "Cdte João Belo"-F480
(Fonte 21º CFORN (reservanaval)








NRP "Cdte Sacadura Cabral"-F483
(colaboração de Jean Pierre)

















OS ÚLTIMOS DAS GUARNIÇÕES
( Sentimento de dever cumprido)



Ex-NRP "CTE JOÃO BELO,( a navegar com Bandeira do URUGUAY),
 com outro número de amura"1" e com o nome "ROU Uruguay".

Fragata da Marinha do Uruguai, saindo de Lisboa.
"ROU COMANDANTE  CAMPBELL - 2"

REIS NETO
No âmbito do processo de venda das Fragatas classe ”Comandante João Belo” à Marinha do Uruguai, fomos quatro portugueses a bordo de ambas as fragatas, que passaram a ter o nome ROU “Uruguay” (Ex-NRP “Comandante João Belo”) e ROU “Comandante Pedro Campbell” (Ex-NRP “Comandante Sacadura Cabral”), para dar apoio na área de comunicações de bordo, mais concretamente na área do Sistema Integrado de Comunicações. Embora todos os quatro elementos fizessem parte da guarnição no NRP “Comandante João Belo”, eu e o Cabo CRO Antunes seguimos no ROU “Comandante Pedro Campbell”, ficando os outros dois elementos no ROU “Uruguay”. O acompanhamento era, inicialmente, para ser efectuado até ao Uruguai, com paragens em Cabo Verde para reabastecer, na África do Sul para participação no ATLASUR e também havia a possibilidade de uma breve escala no sul do Brasil para efectuar uma faina de munições.
Relatarei agora mais concretamente a viagem rumo ao Uruguai. Antes de mais nada, quero salientar que houveram comentários bastante negativos em relação à alimentação de bordo e quero veemente discordar destes. É um facto que na semana em que foi efectuada a navegação após a entrega, a alimentação deixou muito a desejar (eu próprio a critiquei). Mas a razão foi que a ementa implementada a bordo foi a portuguesa e claro que, não sendo o Uruguai um país de dieta mediterrânica, os cozinheiros “estragaram” as refeições, visto não terem o conhecimento para as cozinhar. A partir do 25 de Abril (data da largada rumo à África do Sul) e já com apenas os quatro militares portugueses a bordo, a alimentação foi muito boa. Isto, claro, seguindo a dieta deste país, que é à base de massas, muito semelhante à italiana. E para quem aprecia massas (tal como eu), a alimentação foi excelente! Mas devo concordar que após 21 dias de navegação, já sentia imensa falta de um peixe cozido e de uma bela sopa. A tal ponto que, por estarem sempre a ouvir-me queixar que nunca se comia peixe, alguns elementos da guarnição, por piada, pegaram em alguns peixes-voadores (que abundavam na costa Africana e por diversas vezes saltavam para o convés) e confeccionaram um prato de peixe-voador exclusivamente para mim. Saliento também que nunca houve qualquer problema em reforçar a refeição e havia doce três a quatro vezes por semana (coisa que na nossa Marinha não se passa) e a todos os dias 29 do mês existia uma tradição que é o NHOQUE (http://pt.wikipedia.org/wiki/Nhoque). O mais engraçado desta tradição é que o alimento era feito com a ajuda de todos os elementos da guarnição que quisessem participar. Nós próprios ajudámos na elaboração desse prato tão típico. Penso que na nossa Marinha era interessante existir uma prática semelhante, porque nesse dia toda a guarnição se juntava e confraternizava. E devo dizer que o prato era bastante bom!
Quanto à camaradagem, foi excelente e sempre existiu imenso respeito por nós. Se me pedissem para descrever os uruguaios, eu diria que são um povo bastante hospitaleiro e atencioso, do camarada mais jovem ao mais velho. Vários foram os elementos que nos ofereceram estadia para a data da suposta permanência que iriamos ter no seu país, coisa que eu não sei se aconteceria se a situação fosse inversa. Todos se preocuparam com o nosso bem-estar e ouviram pacientemente as nossas mágoas, provocadas pelas saudades que já tínhamos da família, mesmo estando eles já há três meses afastados das suas. Tenho muito a agradecer neste aspecto e penso que posso falar pelos meus outros três camaradas.
Outra experiência inolvidável foi ter feito a minha primeira travessia pela linha do equador. E, apesar de ter sofrido um “pouco” (ironia...) na pele a tradição Uruguaia (que tem algumas diferenças da nossa), só devo dizer que foi uma festa excelente. Ah, e fiquei com um look bem extravagante! O camarada que me acompanhou filmou toda a cerimónia, guardando assim provas do “crime”. Devo dizer que a minha participação foi voluntária e esteve sempre a ser supervisionada pelo Comandante (uma excelente pessoa). Já à noite, na tolda do navio, e com grande parte dos elementos da guarnição com um visual idêntico ao do famoso árbitro italiano Pierluigi Collina, houve direito a um diploma que comprovou o baptismo do Rei Neptuno pela nossa primeira passagem no equador.
Em relação à missão propriamente dita, esta correu muito bem até à data do infeliz acidente. Foram realizados vários exercícios de manobra com ambas as fragatas, mas, como se costuma dizer, acidentes só não acontecem a quem não anda no mar. Portanto, só tenho a dizer que, realmente, as condições ambientais não eram as mais favoráveis, visto estarmos a atravessar vários bancos de nevoeiro e a noite estar bastante escura. É um facto que a fragata está equipada com equipamentos de apoio à navegação e acredito que o acidente podia ter sido evitado, mas não vou comentar acerca dessa questão, porque, além de não ser a minha área, não quero fazer juízos de valor.
  O acidente propriamente dito foi uma sensação estranha para mim (foi o primeiro que vivi e espero ter sido o último). Estava a jantar no momento e senti um grande abanão. Como estávamos a uma velocidade razoável, passou-me pela cabeça que tinha acontecido algo com a máquina. Mas um segundo abalo aconteceu, sendo este muito maior que o primeiro. O que me ocorreu foi que tínhamos batido no fundo, porque o navio parou repentinamente. Mas logo concluí que era impossível, pois estávamos em mar alto (a 70 milhas da costa da Namíbia). Logo comecei a ouvir gritos e vozes no E.T.O. a alertar que tínhamos sido abalroados pela ROU “Uruguay”. As fragatas bateram primeiro de proa e depois encostaram uma com a outra. Como o camarada que se encontrava a bordo comigo não estava ao pé de mim, a minha primeira reacção foi procurá-lo. Felizmente, ele também agiu da mesma forma, por isso encontrámo-nos rapidamente. Como o camarada estava na tolda e presenciou tudo (ele sim, apanhou um valente susto!), fomos logo vestir o fato de embarque e envergar o colete (acho que nunca o fizemos de forma tão rápida como nessa noite!). Devo dizer que a guarnição prontamente tomou as medidas necessárias para um acidente daquele tipo, apesar de terem existido sinais de um certo pânico em alguns elementos, que chegaram a ocupar postos de abandono J . Como é normal, dirigimo-nos à ponte para tentar perceber o que tinha acontecido. O próprio Comandante colocou-nos a par da situação e, para nosso alívio, conseguimos perceber que já estava tudo controlado. Não tendo ainda dobrado o Cabo das Tormentas (da Boa Esperança, é certo... mas naquela altura eu apenas conseguia chamá-lo de Cabo das Tormentas), estava com receio de navegar, devido ao grande rombo na proa, mas felizmente o estado do mar ajudou. Após 21 dias de navegação, chegamos à Base Naval de Simonstown (perto da Cidade do Cabo). Aí foi efectuada uma perícia aos estragos, tendo-se concluído que a ROU “Uruguay” estava apta para fazer o ATLASUR, como estipulado. E, de facto, fez o exercício com alguns “remendos” no seu costado. Após o ATLASUR, o próximo passo era a reparação das fragatas. A ROU “Comandante Pedro Campbell” tinha, além do rombo, algumas balizas tortas. Mas, apesar do aspecto (devido ao rombo), era a ROU “Uruguay” que estava em pior estado, visto que tinha muitas balizas tortas (16 pelo que diziam).
Existiu um grande impasse na reparação e a nossa estadia acabou por se prolongar muito para além do que inicialmente estava previsto. O tédio tornou-se uma constante, e começámos a passar bastante tempo fora dos navios, visto que os nossos serviços muito raramente eram requisitados. Montámos “acampamento” num restaurante chamado “Cafe Pescado”, que tinha rede wi-fi e que nos permitia estar em contacto com as nossas famílias. Por passarmos a ser caras familiares nesse bar/restaurante, acabámos por estabelecer um relacionamento de proximidade com a dona e as empregadas. A dona desse bar (de nome Claire Ryan), demonstrou grande hospitalidade e simpatia para com todos nós. Tinha a paciência de manter o bar aberto até mais tarde para que os camaradas Uruguaios vissem jogos de futebol do seu campeonato (a horas tardias, pela diferença de fusos horários). A nós, portugueses, colocou o seu carro à disposição. Oferta essa que gentilmente recusámos, pois na África do Sul circula-se “à inglesa” e tínhamos medo de a nossa inexperiência se transformar em algum embaraçoso acidente. No entanto, sacrificou um dos seus dias de folga, e levou-nos todos a ver os principais pontos turísticos da zona. Também tivemos a inesquecível experiência de nos deslocarmos de combóio até à Cidade do Cabo. A primeira viagem, feita em 2ª classe, foi bastante típica (se é que podemos chamar-lhe isso...). No regresso, já viemos de 1ª classe, que era bastante menos “típica” e muito mais sossegada.
Mas, tirando essas pequenas aventuras, o nosso dia-a-dia era cada vez mais monótono e as saudades de casa começavam a apertar. Como a reparação das duas fragatas não tinha ainda um final à vista, acabámos por pedir para regressar a Lisboa. Regresso esse que aconteceu no dia 7 de Julho. Fomos de avião até Munique, onde perdemos o avião para Lisboa e nos vimos obrigados a pernoitar no Aeroporto. Devemos isso à “simpatia” e “competência” de alguns funcionários do aeroporto de Munique, que não nos dispensaram de certas burocracias, o que fez com que perdêssemos o nosso vôo. No entanto, sobrevivemos à “hospitalidade germânica” e voltámos para junto das nossas famílias.
(Brasão do URUGUAY)
No final de tudo penso que a nossa missão foi alcançada, apesar de esta não correr de acordo com o expectável, ficando assim com o sentimento de dever cumprido. Para além de ficarmos também com uma recordação muito positiva desta “aventura” vivida por quatro Portugueses. Quero também deixar um bem-haja a todos os camaradas Uruguaios, que sempre nos apoiaram e que nunca nos deixaram com um sentimento de deslocados. Trataram-nos como um deles. Trataram-nos como irmãos, porque apesar de termos nacionalidades e costumes diferentes, ambos enveredamos por uma vida de mar, vida de marinheiros.
 Apesar de escrever na primeira pessoa, este texto foi elaborado em conjunto com o excelente profissional e camarada Pedro Antunes, espero que consigamos exprimir bem a nossa aventura e um até breve.
1ºSAR ETC Reis Neto
     CAB  CRO  Gonçalves Antunes.



Peixe voador, que aterrou no convés da Fragata  Comandante João Belo.
(1970)
Foto cededida por  José Joaquim dos Reis Vieira ( BIANA), Mar. Elect.,
 da 1ª Guarnição.
(Base Naval de Lisboa, Abril de 2008


A Ex-Fragata Cte João Belo, após a sua saída de Lisboa (Portugal),
 já com bandeira do Uruguay.



Cerimónia de transferência das fragatas da classe João Belo

Crédito:-  #marinhaportuguesa     https://youtu.be/CT6AobEi6IY