terça-feira, 15 de janeiro de 2013

FRAGATA JOÃO BELO EM DURBAN - SOUTH ÁFRICA



NRP "COMANDANTE JOÃO BELO"


HISTÓRIAS DE MARINHA E MARINHEIROS/AS

ESTADIA EM DURBAN - SOUTH ÁFRICA




O episódio II, descrito neste blogue, pelo nosso Comandante Leonel Cardoso, vai ser narrado, por outro marinheiro, que o Senhor Comandante não visitou.

Estava-mos na doca-flutuante, em Durban, onde chega-mos em meados de Dezembro de 1969, para ser efectuada a limpeza e pintura do casco da Fragata, antes da nossa partida para terras do Oriente.
A nossa permanência em Durban, não deve ter ido além dos oito dias, porque em 24 de Dezembro de 1969, atraca-mos em Lourenço Marques-Moçambique.





A MINHA ESTADIA EM DURBAN



Por sorte, eu o Marinheiro Radarista nº 1330/66, António da Silva Martins fui escolhido para passar uns dias de lazer, nos arredores de Durban, na Província do Natal, próximo da Zululândia, já nesse tempo, um Território Autónomo no interior da Província do Natal*, em casa de "farmers" (agricultores), que se dedicavam ao cultivo da cana de açúcar.

Recordo-me do nome do chefe de família, Sr Vivian da Silva, que habitava com a sua esposa duas filhas e um filho, numa vivenda, próximo de uma praia muito pouco frequentada, à qual nos deslocava-mos com frequência. O casal acolheu-me e tratou-me como elemento da família. Nada me faltou...
Tinham o cuidado de confeccionar as refeições o mais aproximado possível dos nossos hábitos alimentares, que eles conheciam muito bem!!!

Como sempre, na África do Sul, o pequeno almoço era de faca e garfo!!!

Fiquei muito bem alojado, com todas as mordomias da família Vivian da Silva, os quais me trataram com um carinho muito familiar, que me emocionava, pela carência do calor afável  dos meus familiares, que naquela altura já se fazia sentir!!! 
Também tinha piscina e de água salgada, onde me diverti com o casal Vivian, suas duas filhas e filho. 

Todos os dias percorria-mos alguns quilómetros, na companhia do Sr Vivian, para apreciar-mos as centenas de hectares de plantações de cana do açúcar, as fábricas que transformavam a cana do açúcar em melaço e outras zonas da região, cujos nomes já não me lembro. Notava-se nitidamente, onde acabava a área da Província do Natal e iniciava a  "Zululândia", porque os "farmers"(agricultores) brancos, não podiam adquirir "farmes" (terras para cultivo), no outro lado, pelo que havia um contraste entre o verde da cana do açúcar do lado sul-africano e o castanho da terra na Zululândia!!!

Em conversa, manifestavam um grande apreço pelos portugueses, pelo seu patriotismo e coragem de combate no norte de Moçambique.

Expirado o prazo da minha permanência, na casa de acolhimento, a família Viviam da Silva, transportou-me ao navio, ficando combinado o dia e a hora, em que lá iriam de novo para se despedirem.
Eu e outros camaradas amigos, queria-mos retribuir a sua amabilidade e no dia em que eles lá foram, já tinha-mos tudo preparado para uma grande recepção, no refeitório dos praças!!! Surpreende-mo-los, com um verdadeiro Bacalhau à Brás. O nosso camarada cozinheiro, Aurélio Nunes Mendonça era especialista neste prato tradicional, bem conhecido na nossa Marinha de Guerra, o qual também nos acompanhou na refeição, bem regada com um belo vinho branco fresquinho!!!
Ficaram radiantes com a surpresa de uma refeição que eles nunca tinham provado e que  muito apreciaram.

Durante o tempo que estiveram a confraternizar a bordo, outros camaradas se tornaram amigos desta fantástica família de acolhimento. Não se esqueceram do belo tempo que passaram entre os marinheiros da guarnição, que apesar de se fazerem acompanhar das suas filhas, os nossos camaradas souberam, como sempre, respeitar as boas regras e transmitindo uma boa imagem da Marinha Portuguesa, em especial da guarnição da Fragata João Belo.

Após algumas horas de companhia, chegou o momento da despedida, com calorosos abraços e com as lágrimas no canto dos olhos!!! Custou tanto a eles como a nós, a despedida, não sabendo até quando!!!
Após a nossa chegada a Lourenço Marques, em 24/12/1969, onde passamos o Natal, mais tarde recebi da família Vivian da Silva, um postal ilustrado, desejando as Boas Festas a toda a Guarnição da Fragata João Belo!!! Fantástico! Este postal, mostrou como ficaram gratos, não só a mim e outros amigos, mas a todos os marinheiros da "Comandante João Belo!!!

Nunca os esqueci. Fiquei com os seus contactos, que guardei durante alguns anos.
Quis o destino, mais tarde, que eu tivesse que ir viver para Vanderbijlpark, África do Sul!!!

Em Outubro de 1977, se a memória não me atraiçoa, fui passar as minhas férias a Durban!!! Contactei a família Vivian da Silva por telefone, dando-lhe a notícia que me encontrava  naquela cidade, com a minha filha e sua mãe. Do outro lado ouvi um grito de emoção!!! No dia seguinte vieram ter connosco para irmos almoçar com eles à sua própria casa, onde eu tinha estado há oito anos atrás!!! Passa-mos o dia relembrando a nossa estadia em Durban em Dezembro de 1969!!! Junto à noite transportaram-nos até ao local onde nos encontrava-mos alojados. Na ante-véspera de fazer a minha viagem, encontra-mo-nos de novo, para conviver-mos mais umas horas e mais uma despedida cheia de emoção, que não deu para disfarçar!!!

Obrigado à família Vivian da Silva, pelo carinho com que me acolheram no seu seio familiar. Nunca os esqueci nem esquecerei até que a minha memória ou a morte me atraiçoe. 
Aqui fica a minha homenagem, a esta fantástica família, penso que de origem francesa ( Maurícias), com a publicação deste texto e duas fotos, que ainda hoje conservo, tiradas em sua casa, onde está o Sr Viviam, as suas filhas e filho e a minha filha. 


António da Silva Martins
Ex-Marinheiro Radarista nº 1330/66, da 1ª Guarnição da Fragata João Belo.



Mais uma grande amiga, residente em Durban, 

com quem mantive contacto durante vários meses. 
DURBAN - Beachfront - (Aan die seekant)
A scintillating night scene of this gay seaside resort, 
 with illuminationated Fun Fair, at left
 and Minitown at the right centre.

DURBAN - South Beach
(Teeming Holiday-makers frolic in the surf and on the sands.)


DURBAN - Top Left :-Harbour and city centre. 1969
Top Right : -Zulu Ricksha Boys.
Bottom Left :- South Beach.
Bottom Right :- Illuminations on Beachfronte.

* Os Territórios Autónomos nessa época, penso que a autonomia era considerada como "Bandustão" ou " Homelands", auto governados por grupos étnicos dentro da África do Sul, segundo a política vigente na altura. Geralmente eram governados por uma Monarquia sub-nacional!!!
A Província do Natal, hoje já não existe, devido à reforma Administrativa efectuada em 1994.






ZULU GIRLS in Tribal Dress looking towords the
 Valley Trust Foundationnesting
 in the Valley of 1000 Hills
Zululândia-1969


O postal recebido em Lourenço Marques,
enviado pela Família Viviam da Silva.
1969


A Paula Alexandra, nos braços do Sr Vivian da Silva
e as suas duas filhas
(1977)
 Vivian da Silva do nosso lado esquerdo 
e os seus 3 filhos. Do lado
direito o Martins, e a coruta da cabeça da sua 
filha, ao centro do topo da mesa.
(1977)




sexta-feira, 21 de setembro de 2012

É O SEU NAVIO


NRP  "CTE JOÃO BELO"


APRESENTAÇÃO DO LIVRO
 "É O SEU NAVIO"



O LIVRO EDITADO, APRESENTADO EM AVEIRO, NO  "ISCIA"


HMS "Benfold"



A Fragata João Belo (BLOG), teve a honra de se fazer representar, pelo seu fundador, no Auditório do ISCIA- AVEIRO, para assistir à apresentação do livro "É O SEU NAVIO",  de interesse publico, tanto para Militares como para a restante comunidade em geral.
 A sua apresentação, teve a colaboração, em Aveiro, da "FREDAVE/ISCIA.
Os oradores da apresentação foram: - Sr V/ Alm. Tito Cerqueira, comentando a área técnico-económica, da administração do navio no domínio da Marinha, o Dr José Costa, destacou no seu discurso, este tipo de gestão, em empresas privadas, matéria  que é do seu domínio.
A assistência não foi muita mas foi de qualidade, mostrando o seu interesse em discutir o assunto em causa, quando lhes foi dada a palavra!!!
No final foi servido aos presentes champanhe e "salgadinhos", brindando a mais uma obra prima da Editora Náutica Nacional e Editora Oásis.
Este livro, não é um original das editores citadas. O  seu original é do Comandante Americano D. MICHAEL ABRASHOFF, tendo sido adquirido, pelas Editoras os direitos para a sua publicação em português, com algumas pequenas alterações, em termos técnicos, da Marinha.

António da Silva Martins



Versão em Inglês


HMS "Benfold"


APRESENTAÇÃO DO LIVRO

Um livro interessante, fácil de ler e com  muito de autobiográfico. O Cte  D. Michael Abrashoff, conta-nos como em menos de um ano tornou o U.S.S. "BENFOLD" no melhor navio da Esquadra do Pacífico da "U.S. Navy", quer nos aspectos de  desempenho operacional, que no que se refere às áreas administrativas e de gestão.-

Quais as técnicas de "management", quais os segredos de liderança do Cte Abrashoff, do "Megafone Mike", como a sua guarnição, com carinho e respeito, o chamava!?

Os títulos dos vários capítulos falam por si: "liderar pelo exemplo", "ouvir com atenção", "comunicar o objectivo e o fim", "criar um clima de confiança", "o objectivo é atingir resultados, não cumprimentos ou salamaleques", "assumir riscos calculados", "ultrapassar os procedimentos padrão", "desenvolver profissionalmente a guarnição", "gerar unidade" e "melhorar a qualidade de vida do pessoal".

O BENFOLD  que o Cte Abrashoff comandou em 1997/1999, é um "Destroyer" da Classe ARLEIGH BURK, um navio com cerca de 8.500 tons de deslocamento, com 7um radar "Aegis" capaz de detectar um alvo do tamanho de uma gaivota a 50 milhas de distância, armado com uma peça de 127 mm e mísseis superfície-ar  "Sea Sparrow" e "Standard", mar-mar "Harpoon" e mar-terra "Tomahawk" de longo alcance. Quatro turbinas a gás LM 2500 proporcionam rápidas acelerações e desacelerações e uma velocidade superior a 30 nós, e uma guarnição de 310 mulheres e homens tripulava esta verdadeira"fighting 
machine". O facto de o sistema mar-terra "Tomahawk" só estar disponível em muito poucos navios naquele período e de a guarnição do BENFOLD  o operar com muita eficiência e eficácia, chamaram a atenção dos Comandantes Superiores e dos Estados-Maiores para este navio e para o seu Comandante. Mas também na gestão do orçamento de manutenção se conseguirem importantes poupanças, fruto de algumas iniciativas inovadoras, bem como na taxa de reenlistamento dos marinheiros, que subiu de 28% para cerca de 95%, indiciando assim uma guarnição satisfeita e de moral elevado.

Como nos diz Abrashoff,  o BENFOLD é comparável a uma empresa PME, ou uma fábrica de média dimensão; as técnicas de gestão usadas a bordo produziram certamente bons resultados num instituto público ou numa empresa civil de dimensão equivalente.
Mike Abrashoff graduou-se na Academia Naval de Annapolis em Ciência Política; é assim um "ring Knocker" como na Marinha Americana se chamavam os oficiais provenientes da Academia naval de Annapolis. Teve uma carreira normal, sendo chefe de serviço, de departamento e Oficial Imediato em fragatas e "Destroyeres". Uma função que o marcou positivamente foi ser adjunto militar do gabinete do secretário de estado da defesa, William Perry. Foi, aliás, uma escolha pessoal do Secretário da Defesa, a quem foram apresentados três oficiais de cada ramo, Marinha, Marines, Exército e Força Aérea.

Após o sucesso no comando do BENFOLD, seria de esperar o comando de uim "DESRON", um agrupamento de seis navios, e posteriormente, como C/Almirante, o comando de umk "battle group", um porta-aviões e a sua escolta de superfície e de sub-superfície, enfim, uma carreira fulgurante. Mas não foi isso que aconteceu!!! Mike Abrashoff  passou à reserva como Capitão-de-Mar e Guerra, ao fazer vinte anos de carreira e fundou uma empresa de consultadoria. Uma decisão de quem quer fazer outras coisas na vida e ter uma nova carreira civil, ou a percepção de que o sucesso obtido tinha gerado demasiados anticorpos na Marinha, que não lhe perdoariam!? É algo que não nos diz no seu livro, mas que nos deixa a pensar....

( In Revista de Marinha)


Diversos livros editados e a Revista de Marinha
O livro apresentado

DA ESQUERDA PARA A DIREITA
  1. António da Silva Martins,
  2. V/Alm. Tito Cerqueira,
  3. Prof. Doutor Armando Teixeira Carneiro  
  4. Alm. Henrique da Fonseca.

Parte da assistência
Assistência  e mesa de honra
Um dos apresentadores do livro, na óptica Naval,
V/Alm. Tito Cerqueira 
Dr  José Cruz (Gestor)
Mesa de honra,da esquerda para a direita,Dr José Costa,Alm. H. Fonseca,
 Prof.Doutor Armando Teixeira Carneiro ( Director do ISCIA) e o V/Alm. Tito Cerqueira
O representante da Fragata Cdte João Belo, em conversa com
 o Sr Almirante Henrique da Fonseca,
o qual fez parte da 1ª Guarnição da Fragata Cdte João Belo






NOTA DO BLOGUER:

A reportagem fotográfica, foi feita pelo estúdio, abaixo apresentado, ao qual este blogue agradece
É de salientar, que o seu proprietário, também foi filho da escola, tendo feito parte da guarnição da  NRP "SAGRES".











sábado, 23 de junho de 2012


NRP "COMANDANTE JOÃO BELO" -  F480



HISTÓRIAS DE MARINHA E DE MARINHEIROS/AS


CRÓNICA DE MARINHA


DOIS ANOS POR ESSE MUNDO FORA
POR Leonel  Cardoso
Cap.-Frag







Há muito tempo que um dos nossos navios não realizava uma uma viagem tão variada e em que chegasse a Lisboa com tantas milhas andadas. Durante dois anos a Fragata "Comandante João Belo" navegou 84.000 milhas em mais de 6.000 horas, durante as quais visitou 32 portos, espalhados  por 3 continentes e 4 oceanos, e atracou 98 vezes e fundeou 84.

 Esteve em operações em Moçambique e em Angola, esteve em Macau e Timor, em visita de soberania, e em Sydney e Brisbane, em visita oficial. Visitou Hong-Kong, Port Darwin e Fremantle para reabastecimento, e Durban para docar. 

Teve a honra de transportar Sua Excelência o Chefe do Estado numa volta em torno da Ilha de S. Tomé e de escoltar o navio presidencial, "PAQUETE PRÍNCIPE PERFEITO" em parte da sua viagem. Colaborou nas comemorações camoneanas  na Ilha de Moçambique e na cerimónia de inauguração do novo edifício da Capitania e Defesa Marítima do Lobito.

Transportou Comandantes -Chefes, Generais e Almirantes, Comandantes de Forças Armadas Terrestres, Aéreas e Navais.

Recebeu visitas de dois Governadores-Gerais, de dois Governadores de Província, dum Cardeal e de três Bispos, doutras altas individualidades e de muito povo de várias raças.
Foi realmente uma comissão variada e durante a qual se colheram muitas impressões, se registaram muitos incidentes, se apontaram muitas peripécias - e até anedotas- que seria egoísmo guardarmos só para nós. por isso tentarei referir as mais interessantes, os mais característicos, ou os que mais me impressionaram.

EPISÓDIO I
Ao entrarmos em Hong-Kong, passámos por um navio de guerra americano, cujo nome não interessa, que, com grande surpresa minha e do próprio oficial de ligação (que embarca com o piloto),  enviou o seguinte sinal: «INT QRD - Qual o seu destino e de onde vem»? (ACP 131 (B) ).

Respondi-lhe apenas «TO SEA FROM SEA».... e num "cocktail" nessa noite o Comandante do referido navio apresentou-me as suas desculpas! É curioso como os sinaleiros americanos têm tendência para fazer perguntas de sua iniciativa. 

Em 1954, nos E.U.A. um deles perguntou a um draga-minas belga «WHICH FLAG ARE YOU FLYING?» e a sua resposta não se fez esperar «BELGIAN. WHICH IS YOURS»?! Ainda ao mesmo draga-minas, cujo Comandante tinha sempre resposta pronta, perguntaram-lhe um dia «HAVE YOU WOMEN ON BOARD?» ao que ele respondeu «NEGATIVE. PLEASE SEND FORTY FIVE»!....tantas quantos os homens do seu navio.

EPISÓDIO II
Fomos para Durban, onde docámos e ali fomos encontrar um ambiente de grande simpatia. 

Por vontade dos "farmers" dos arredores, o navio teria estado sempre reduzido ao pessoal de serviço pois queriam ter marinheiros em suas casas todo o tempo.

Lembro-me de um Domingo ter ido com um casal amigo, visitar uma fazenda onde havia já dois dias estavam instalados 3 das nossas praças. Encontrei-os felicíssimos, brincando na piscina com os filhos dos donos da casa e outras crianças da vizinhança, e um cabo-fogueiro com a barriga espreitando por cima dos calções de banho, disse-me com um sorriso :- Oh Senhor Comandante, quem é que agora nos irá levar o mata-bicho à cama, lá a bordo?!


Seis «barbudos» da "João Belo" desembarcando uma réplica de padrão
na Ilha de Goa (Comemorações Camoneanas em Moçambique)
Estas comemorações, foram celebradas na Ilha de Moçambique-1969

Capitania e  Comando  da Defesa Marítima
LOBITO-ANGOLA 1970
Guarnição da Fragata João Belo, nas cerimónias de inauguração do novo edifício
da Capitania e C.D.M. Lobito - Angola, 1970

Marinheiros da Fragata João Belo, passeando em Durban - 1969
África do Sul

Capa do ANAIS do Clube Militar Naval, onde se encontra a publicação do nosso Comandante
 1971


NOTA DO BLOGUER
Este blogue irá dar continuidade às crónicas, escolhidas na sua narração, porque o nosso Comandante LEONEL CARDOSO, legou-nos uma importante e bela história escrita no ANAIS DO CLUBE MILITAR NAVAL, a quem agradeço a colaboração, para que estas crónicas informativas, fossem aqui publicadas.
Até breve.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

FRAGATA "COMANDANTE JOÃO BELO"

"HISTÓRIAS DE MARINHA E DE 
MARINHEIROS"




PRIMEIRA VOLTA AO MUNDO DO NRP"SAGRES" - 1978/1979





SAÍDA DE LISBOA  DO NAVIO-ESCOLA SAGRES - 1978


Sabia que? 
No dia 23 de junho mas de 1978 o Navio-Escola Sagres partia para aquela que foi a primeira volta ao mundo ao serviço da Marinha Portuguesa.
Imagem da Sagres fundeada no Tejo com a guarnição prestando honras ao Presidente da República, pouco antes de largar para a primeira viagem de circum-navegação.



FOTO DA PÁGINA OFICIAL DA MARINHA DE GUERRA PORTUGUESA
BRASÃO DE ARMAS DA "SAGRES"
(CRESTA)




   ACONTECEU EM NAGASAKI (JAPÃO) 



Ponte:-japan-cruise.com

OS DOIS MARINHEIROS DISTINGUIDOS EXIBINDO A SUA MEDALHA



CRÓNICA DE VICTOR MOREIRA-SGC 


VICTOR MOREIRA
SGC - TFD
Camaradas, é com muito prazer que partilho convosco uma história verídica contada na 1ª pessoa, passada na véspera de ano novo (1978/79 no decurso da 1ª Volta ao Mundo do Navio Escola "SAGRES" da Marinha de Guerra Portuguesa), no outro lado do Mundo, na cidade de Nagasaki no Japão.

Tinha saído com uns camaradas para beber uns "sákés" (aguardente de arroz tradicional, que à primeira vista aparenta ser água mas não é acreditem), e ver a vida nocturna da cidade que é soberba. Claro que regressamos com "os pés molhados a Bordo". Estava eu a despir-me para ir “carregar as baterias”, quando ouvi um chapão na água e gente a gritar, ou antes a falar mais alto, (acho que os Japoneses nunca gritam), e porque apesar da meia-noite estar já bem distante, ainda havia naturais no molhe a ver a nossa Linda “BARCA”.

Um Senhor de idade avançada e bastante corpulento que estava a admirar a “SAGRES”, descuidou-se e caiu à água, ficando em perigo de vida porque o navio devido à "calema" afastava-se e batia com alguma violência nas defensas de protecção no molhe.

Assomei-me à vigia, que nesta coberta estava a apenas 1 metro da linha de água, vi o que se passava, e foi sem hesitação, que entrei na água e puxei o Senhor para uma reentrância entre dois pilares do molhe, até que o Grupo de Serviço no convés também já em acções de Salvamento, me atirou uma bóia salva vidas amarrada a uma retenida, e fez descer pelo costado uma escada "quebra-costas".

Colocada como pude a bóia no Senhor, (era um pouco forte e não foi fácil), coloquei-o às cavalitas e lá fui eu pela escada acima ajudado pelo pessoal que puxando a retenida presa à bóia, tornou o salvamento possível.

Só então é que reparei que estava em “trajes menores”, e que a água nessa altura do ano e ainda por cima aquela hora está com os "Celsius" muito pouco aconselháveis para a prática da natação.

Foram 4 horas de baixo do chuveiro com água o mais quente possível como se nada fosse, estava em hipotermia com a pele de um tom roxo-azulado lindo.

A Televisão e repórteres fotográficos que já tinham tudo preparado a bordo para a festa de Passagem de Ano, "embandeiraram arco", e vieram logo pela manhã saber mais sobre os acontecimentos dessa madrugada e fazer a reportagem da cerimónia.

A Cidade de Nagasaki fez questão de nos distinguir, com uma Medalha Oficial e um Documento Tradicional selado, além de outras ofertas, em homenagem ao que consideraram ser um acto de bravura, oferecido pela Prefeitura/ Departamento Policia da Cidade.

Nesse dia à noite na passagem de ano a bordo, barris de Saqué enormes abundavam pelo convés da SAGRES, mas eu já não lhes dediquei assim tanta atenção, a cabeça ainda acusava " a ressaca" da véspera, havia recepção a bordo e eu estava de serviço.

Fiquei a saber que os Japoneses não brincam em serviço, quando se trata de homenagear quem por eles faz alguma coisa de relevante, já o mesmo não posso dizer dos "ilustres" do meu País, para quem estes acontecimentos embora tenham sido na altura divulgados, não mereceram qualquer atenção, nem pareceram ter impacto na Imagem do País e da sua Marinha no Estrangeiro, é esta a minha única tristeza.

Hoje olhando para as ofertas que tenho cá em casa uma medalha enorme muito bonita, e um diploma escrito em Japonês, onde algures consta o meu nome escrito nessa língua, uma foto da entrega da medalha, (onde está também o 1º Marinheiro A, que se encontrava no convés de serviço, que foi também ele agraciado), não posso deixar de reviver essa noite única, em que o destino quis que deixá-se a minha marca, em alguém desse País cuja vida ajudei a preservar.

Com mágoa penso e acredito, que se eu fosse na altura um Graduado e não um modesto 1º MAR TFD a protagonizar esta "história", que as coisas teriam sido muito diferentes. Mas isso é outra história.

Nesta, tenho a certeza que a Marinha de Guerra Portuguesa, o Navio Escola “SAGRES”, e os seus Militares, saiu trajada de “grande Gala” ao ter deixado novamente no Japão boas recordações e imagem, também devido a este singelo acontecimento.

Acredito que haja alguém ainda por lá no Japão que se recordará dessa madrugada do dia 31 de Dezembro de 1978 de boa memória.


Victor Moreira
SCH TF



OS MARINHEIROS VICTOR MOREIRA, À ESQUERDA E VIEGAS
(Esta foto é propriedade do autor do Texto-Victor Moreira)
À equipa do Google por favor informem as razões deste barramento!!!

OS MARINHEIROS VICTOR MOREIRA, À ESQUERDA E VIEGAS
(PORQUÊ???)




MEDALHA COM QUE FORAM AGRACIADOS , PELA AUTORIDADES LOCAIS
CARTA DE AGRADECIMENTO, RECEBIDA SÓ PELO VICTOR MOREIRA,
ENTREGUE PELAS AUTORIDADES DE NAGASAKI

TRADUÇÃO OFICIAL DO DOCUMENTO APRESENTADO EM JAPONÊS,
GENTILMENTE TRADUZIDO PELA EMBAIXADA DO  JAPÃO


MAIS UMA RECOMPENSA OFERECIDA PELOS JAPONESES AO
VICTOR MOREIRA (PORCELANA GENUINAMENTE JAPONESA)


TODAS AS FOTOS QUE ILUSTRAM ESTA CRÓNICA, FORAM GENTILMENTE CEDIDAS PELO PRÓPRIO AUTOR DO TEXTO, A QUEM ESTE BLOGUE AGRADECE ENCARECIDAMENTE

segunda-feira, 7 de maio de 2012



NRP " COMANDANTE JOÃO BELO"

( Foto partilhada de "carvalhaisdelavos.blogspot.com")



HISTÓRIAS DE MARINHA
 E DE

 "MARINHEIROS/AS"

Medronhos-frutos da mata da BNL

NOTA DO BLOGUER : - O texto apresentado, é integralmente  escrito pela
 autora e reproduzido neste blogue.
Cortesia:- Maria João Rivotti **(QPCM)



RECORDANDO


Foto propriedade da autora do texto
 (À equipa do google, por favor
não eliminem a foto)
Dizem que os cheiros nos trazem à memória momentos inesquecíveis da nossa vida?! sim.

Parece que me estou vendo a correr por aquela bela mata de terra batida e enfeitada por belos medronheiros, por onde eu corria e saltitava, sempre com uma paragem num mini “jardim zoológico“ que ali existia… este belo mundo da minha infância era a bela mata da BNL
E, lá ia eu, pela mão do senhor Comandante Marcos Vieira Garin, de cuja mulher minha mãe era amiga, e que ficavam longos momentos conversando, na “ Praia da Bomba”…ah! ainda me lembro daquele famoso dia em que entrei rio adentro toda vestidinha e de botifarras…foi memorável…e, o trabalho que eu dei à marinha!! 

Recordo a chegada da vedeta ao cais das colunas, que, generosamente, os senhores Comandantes Garin ou Flecha de Mendonça, mandava para vir buscar, a mim e à minha mãe…

E fui crescendo…crescendo e, não querendo recuar demais, pois a estória é longa!

Sou neta de “marujo”, que honrava como um “pai” o senhor Almirante Ramalho Ortigão e sua distinta mulher, a Dona Teresita…Sou prima de “marujos”…Sou filha de “marujo aviador”…

E, acreditem! eu, que dizia não querer casar com nenhum “marujinho”, me apaixonei, nos apaixonámos…por um “reserva naval”. foi amor à primeira vista..acreditem!!

Ficou na história da briosa…deu muito trabalho e choros, pois eu era aquela miúda, saída da faculdade, que, um dia, dia dos anos de minha amada mãe, 6 de fevereiro, se lembrou de abrir o jornal, e ao deparar com um anúncio para o Estado-Maior da Armada, resolveu ir ao Terreiro do Paço, candidatar-se…valeu-me o então Senhor Comandante Simões de Teles que, achando graça aquela figura de “pequenota”, me acolheu e, me arranjou professores para que eu pudesse saber todas as matérias necessárias para o ingresso na Armada…

E, lá entrei para a Marinha…meu pai chorou de emoção e alegria…era mais uma na família de “marujos”…

Ora, estando eu por ali há uns meses, e, almoçando na famosa messe dos Oficiais, forrada a casca de ovos, numa mesa super protetora, cujos oficiais, agora com Deus, jamais esquecerei, e, que tão bem tomavam conta de mim, a pedido da família…sim, porque naquela época não havia mulheres na marinha, por ali existia uma meia dúzia de distintas senhoras…

Assim, encontrava sempre à mesma hora um garboso jovem oficial da Reserva Naval, que, certamente, e, por vontade de Deus, me “catrapiscou”…e, eu a ele!! …sejamos sinceros!!

Mas este namoro deu muito trabalho aos apaixonados e, ao Senhor Almirante Soares Branco, que, com todo o carinho, me chamou para saber ao pormenor o porquê daquela paixão tão espontânea e que, levou a que o Senhor Almirante tivesse que autorizar o casamento por três vezes…Eu não tinha pressa, mas o rapaz sim...Assim, lá casámos…com todas as bênçãos e carinho da nobre Armada…e, a vida continuou.

Nasceu a minha filha que, aos 4 anos foi iniciada no mundo da briosa, o falecido e muito amigo senhor Comandante Correia Gonçalves, que, já tinha sido um dos meus protetores na mesa de almoço…assim, a gaiata e seus pais foram conhecer o mundo da revista, no Parque Mayer, e, todos os seus meandros… estava vacinada…a marinha ficara-lhe no seu pequeno coração..

E, agora, penso:-como seria bom ter um neto “marujo”!!! Gostava…e muito 

A vida continuou por entre aqueles saudosos corredores do então Ministério da Marinha. Não conseguirei mencionar todos os distintos oficiais, sargentos, praças e civis que tanto me ensinaram, protegeram e mimaram…seria exaustivo! Mas, tenho de recordar com muito carinho o Ilustre Senhor Comandante Abel de Oliveira…um humano e distinto chefe…

Recordo também com muita saudade, o senhor Almirante Sousa Leitão que, sempre com a sua nobreza de carácter, me honrava com as suas sempre inteligentes e ponderadas palavras…

Os anos foram passando, e, estando na Comissão de Direito Marítimo Internacional, tive o luxo de ser chefiada pelo senhor Almirante Machado e Moura e pelo muito amigo senhor Comandante Chuquere, alma nobre da briosa….foi um percurso lindo, pois ali conheci e convivi com distintas figuras da Marinha, que ainda hoje tenho, reconhecidamente, no coração. 

 Recordo os Senhores Comandantes Serra Brandão, Soeiro de Brito, Estácio dos Reis e, tantos outros que me ensinaram a caminhar pela vida fora….

Surge então o convite para ir para a Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. longa etapa da minha vida, de momentos únicos e inolvidáveis…sempre com distintos oficias da Marinha ali trabalhei. recordo o Senhor Comandante Rodrigues da Costa oficial dinâmico e amigo. sempre com espírito de amizade e colaboração..recordo o Senhor Comandante Leonel Cardoso e, as suas exposições….recordo…recordo…

Mas a etapa que me deixou indeléveis marcas, foi aquela em que estive trabalhando com o *M I, Senhor Comandante Soeiro de Brito, a quem peço autorização, para aqui dizer, que, sempre ele a sua distinta Senhora, me consideraram da família.

Trabalhei muito, chefiei, assessorei….fui à expo em Sevilha, tantas tarefas que foram feitas com carinho, com amor…mas, valeu a pena…ali ficou parte da minha alma….

Não posso esquecer o Ilustre Senhor Doutor Vasco Graça Moura, que sempre teve a generosidade de ser meu amigo, nos bons e maus momentos da minha vida!

Passados quinze anos regresso à minha amada Marinha…e, mais uma vez, Deus lembrou-se de mim….fui recebida com muito carinho e generosidade…e, assim fiquei, não gosto de o dizer..a encaminhar a parte administrativa e, a assessorar o *M I e humano Senhor Almirante Leitão Rodrigues. Alma boa, alma generosa, que, com sua distinta mulher, sempre me apoiou nos momentos tristes que surgiram na minha vida. A doença de meu marido. Dói ver quem amamos sofrer…mas, ao entrar no gabinete, as lágrimas, quase sempre ficavam lá fora…era tempo de faina…havia que trabalhar…

Passando à reserva o muito estimado Senhor Almirante, surge um outro distinto chefe, o Senhor Almirante Vilas Boas Tavares, com quem gostei muito de trabalhar …era no duro, mas eu gosto assim…sentia-me realizada…Naquele gabinete havia momentos para tudo… para uma palavra de apoio nos momentos mais frágeis da minha vida…e, logo se partia para um árduo trabalho…

A minha vida estava levando um rude golpe…a degradação física do meu marido, devido à “Parkinson”. Homem inteligente, sempre com o cérebro a funcionar em pleno, pois conseguia dar pareceres, como Engenheiro que era, até à hora em que partiu para junto de Deus.

Assim, para que pudesse estar a seu lado, a Marinha facultou a minha saída, que devo, reconhecidamente, agradecer ao senhor Almirante Vilas Boas Tavares. E, a despedida deu-se…despedida física, pois a Marinha ficará na minha alma “ad eternum…”com todo o carinho.

Fui condecorada, publicamente, pelo Senhor Almirante José Augusto Vilas Boas Tavares, na Força de Fuzileiros, momento inolvidável, em que um misto de alegria e tristeza pairou no meu coração. Palavras de apreço, que jamais esquecerei, e, que o Senhor Almirante teve a generosidade de me dirigir…trocaram-se discretamente lágrimas…com a presença da minha filha, genro ( Coronel Comando) e de meu amado neto, minha força de viver!
Mas, o que eu jamais esperaria!?? Os meus amigos Fuzileiros, ofereceram-me alguns símbolos da sua arma, para que não esquecesse aquele momento e aquele histórico local, pedindo-me que os colocasse junto à condecoração, o que fiz com todo o respeito e, muito carinho.

Assim, amigos…entendem como a minha amada “briosa” faz e fará sempre parte desta minha já longa vida?!
Obrigada, meu Deus….por me teres traçado este nobre caminho, que, faria de novo, e, com o mesmo amor pela casa que me viu nascer…crescer… e ser “mulher”.
Maria João Rivotti
*M.I. = Mui Ilustre
**QPCM = Quadro do Pessoal Civil da Marinha



ZONA RESIDENCIAL DA BASE NAVAL DE LISBOA
( Foto de Sailors News )



CERIMÓNIA PARA A ENTREGA DA CONDECORAÇÃO
DE  MARIA JOÃO RIVOTTI - (QPCM)
09 DEZ 2007


Formatura em frente à Tribuna de Honra
(Foto do Álbum de Maria João Rivotti)


Banda da Marinha em frente à Tribuna de Honra
(Foto do Álbum de Maria João Rivotti)


Formatura de Honra dos Fuzileiros
(Foto do Álbum de Maria Rivotti)




Presença da Escola Naval
(Foto do Álbum de Maria Rivotti)


MARIA RIVOTTI, NA TRIBUNA DE HONRA AGUARDANDO
SER CONDECORADA
(Foto do Álbum de Maria Rivotti)

Maria Rivotti a ser condecorada pelo
 Senhor Almirante José Augusto Vilas Boas Tavares
(Foto do Álbum de Maria Rivotti)


Maria Rivotti, acompanhada para a Tribuna de Honra,
por um Tenente Fuzileiro
(Foto do Álbum de Maria Rivotti)

Maria Rivotti, já na Tribuna de Honra, após a condecoração
(Foto do Álbum de Maria Rivotti)
(Á equipa que coordena os Blogs, por favor não barrem a legalidade!!!)


Maria Rivotti, já na Tribuna de Honra, após a condecoração
(Foto do Álbum de Maria Rivotti)
(Todas as fotos publicadas neste artigo, são propriedade da autora do texto)

Maria Rivotti, já na Tribuna de Honra, após a condecoração
(Foto do Álbum de Maria Rivotti)
(PORQUÊ???)









Maria Rivotti, na companhia do seu querido e amado NETO
(Foto do Album de Maria Rivotti)


Sevilha - Igreja da Virgem de Triane (Expo-Sevilha)
( Foto do Album de Maria Rivotti)



Cerimónia de transferência das fragatas da classe João Belo

Crédito:-  #marinhaportuguesa     https://youtu.be/CT6AobEi6IY