(CAUSA DA ESCOLTA: - A BORDO DO PAQUETE SEGUIA O NOSSO PRESIDENTE DA REPÚBLICA O CALM-AMÉRICO THOMAZ).
HISTÓRIAS DE MARINHA E DE MARINHEIROS
Um dia no Porto de São Vicente, na bonita cidade do Mindelo, Terras de Cabo Verde, onde eu, Marinheiro Radarista, da Guarnição da fragata Almirante Pereira da Silva, me encontrava presente aconteceu uma situação que nos podia ter levado a todos à morte…
Encostados na muralha estavam dois Navios de Guerra da Marinha Portuguesa (com 26 bombas de TNT de 200 Kg. cada um) a aguardar o regresso a Lisboa do Presidente da República de então, Alm. Américo Tomás, que tinha ido fazer uma Visita Presidencial a São Tomé e Príncipe e que para lá tinha ido de Lisboa, a bordo do Navio da nossa Marinha Mercante “Príncipe Perfeito”!
Foi recebida uma comunicação rádio para nos deslocarmos à Ponta do Maio onde um navio de transporte entre as diversas ilhas de Cabo Verde e a Guiné, tinha encalhado num banco de areia e, onde se encontravam 116 pessoas, passageiros e tripulantes e mais um cão.
Comunicado o facto à Guarnição e com ela a postos, o Comandante, Cap. de Fragata Tomás de Melo Breyner, deu instruções ao Homem do Leme para introdução de velocidade e rumo de saída…
Acontece, porém, que o dito Homem do Leme, talvez por um nervoso miudinho já que não estava há espera que aquela situação lhe acontecesse, em vez de introduzir o rumo que lhe foi dado, introduziu um totalmente ao contrário e o navio acabou por embater na outra Fragata que ao seu lado se encontrava amarrada…
Mas, lá seguimos viagem até à Ponta do Maio… Os náufragos, entretanto, tinha-se deslocado para terra e assim que nós lá chegamos e ao largo pois não havia local para acostagem. Ao darem fé da nossa chegada, começaram a deslocar-se para o navio em grupos de cerca de 20 homens por embarcação miúda as quais, a ser em Portugal, nunca seria permitido para mais de meia dúzia de homens.
O navio encontrava-se cercado de tubarões e a sorte dos náufragos foi o mar chão que na altura se verificava…
Metidos a bordo e como eles estavam sem comer há várias horas foi-lhes servido um arroz de frango, juntamente com uma sopa (Canja) feita com os miúdos do frango…
Acontece que na sua maioria optaram por comer a canja e, entretanto, o mar encrespou-se e então era um mar de enjoados…
Chegados ao Mindelo, amarramos de novo junto ao outro Navio de Guerra ali presente e descarregamos esse povo mas, não nos esqueçamos do sofrimento em que nos encontramos entre a Ponta do Maio e esse Porto já que, com os vómitos constantes o piso plastificado do Navio tornou-se uma ratoeira para todos nós homens que estávamos habituados a ele mas não àquelas circunstâncias já que, raramente, os homens daquela Guarnição enjoavam e, assim, as quedas eram uma constante e dado os exíguos espaços de passagem e os apetrechos ali instalados, começaram as mazelas a aparecer… Não é que fossem de gravidade mas que doíam lá isso doíam…
Passados dias disto ter acontecido e como, entretanto, tinha morrido o Presidente do Conselho de Ministros, António Salazar e o Presidente da República tinha regressado a Lisboa em avião, reiniciamos a nossa etapa de regresso a Lisboa…
No dia seguinte e só com o pessoal de serviço em alerta e quando eram cerca de 5 horas da manhã, um barulho esquisito fez com todo o pessoal abandonasse seus leitos num ápice e a perguntar uns aos outros o que é que teria acontecido!
Ora, o torniquete que segurava a amarra junto ao Cabrestante com as pancadas que tinha levado na saída para a Ponta do Maio acabou por partir e toda a amarra de uma vez só, por não ter nada a segurá-la juntamente com o ferro de fundear foi num ápice até ao fundo do mar tendo antes disso feito um largo rombo junto à proa e no espaço consignado para Paiol das Tintas… Local onde muitos dos membros da Guarnição transportavam Serviços de Chã e de Café Chineses, para em Portugal venderem ou oferecerem aos amigos (Este foi o meu caso, ofereci à família e ainda, passados estes anos todos existem quase todas as peças, as quais iam no meu Cacifo, junto com outras coisas) os quais ficaram sem qualquer aproveitamento… E o navio ficou todo de esguelha virado para o lado donde se tinha soltado o ferro de fundear…
Não passou de um susto mas que foi um grande susto lá isso foi…
Comandante levantado junto ao Cabrestante e a ponderar todos os efeitos de tal problema… Mandou içar o Ferro e, depois de a amarra se encontrar toda em cima mandou, para não forçar o Cabrestante fazer uma amarra a todo o material com arame que no Paiol se encontrava…
Rumamos a Portugal e, ao passar junto às Ilhas Canárias o meu Comandante ainda tentou lá ir mas, como o outro era mais antigo tal não o permitiu e assim nenhum de nós teve a sorte de uma Ilha das Canárias vir a conhecer!
Chegados a Lisboa lá tivemos mais uma obrita para realizar… Tapar o rombo e arrumar as tintas que estavam espalhadas por todo o Paiol e que, muitas delas por terem rebentado as latas foi preciso apanhar… eram tintas grossas de piso e por isso deram muito trabalho não só as que se apanharam mas também aquelas que já tinham secado por acção das temperaturas ali estacionadas!
Marco de Canaveses, 28/07/2011 – 17H15 Armindo Loureiro – Ex-Mar. R nº 797/6
Encostados na muralha estavam dois Navios de Guerra da Marinha Portuguesa (com 26 bombas de TNT de 200 Kg. cada um) a aguardar o regresso a Lisboa do Presidente da República de então, Alm. Américo Tomás, que tinha ido fazer uma Visita Presidencial a São Tomé e Príncipe e que para lá tinha ido de Lisboa, a bordo do Navio da nossa Marinha Mercante “Príncipe Perfeito”!
Foi recebida uma comunicação rádio para nos deslocarmos à Ponta do Maio onde um navio de transporte entre as diversas ilhas de Cabo Verde e a Guiné, tinha encalhado num banco de areia e, onde se encontravam 116 pessoas, passageiros e tripulantes e mais um cão.
Comunicado o facto à Guarnição e com ela a postos, o Comandante, Cap. de Fragata Tomás de Melo Breyner, deu instruções ao Homem do Leme para introdução de velocidade e rumo de saída…
Acontece, porém, que o dito Homem do Leme, talvez por um nervoso miudinho já que não estava há espera que aquela situação lhe acontecesse, em vez de introduzir o rumo que lhe foi dado, introduziu um totalmente ao contrário e o navio acabou por embater na outra Fragata que ao seu lado se encontrava amarrada…
Mas, lá seguimos viagem até à Ponta do Maio… Os náufragos, entretanto, tinha-se deslocado para terra e assim que nós lá chegamos e ao largo pois não havia local para acostagem. Ao darem fé da nossa chegada, começaram a deslocar-se para o navio em grupos de cerca de 20 homens por embarcação miúda as quais, a ser em Portugal, nunca seria permitido para mais de meia dúzia de homens.
O navio encontrava-se cercado de tubarões e a sorte dos náufragos foi o mar chão que na altura se verificava…
Metidos a bordo e como eles estavam sem comer há várias horas foi-lhes servido um arroz de frango, juntamente com uma sopa (Canja) feita com os miúdos do frango…
Acontece que na sua maioria optaram por comer a canja e, entretanto, o mar encrespou-se e então era um mar de enjoados…
Chegados ao Mindelo, amarramos de novo junto ao outro Navio de Guerra ali presente e descarregamos esse povo mas, não nos esqueçamos do sofrimento em que nos encontramos entre a Ponta do Maio e esse Porto já que, com os vómitos constantes o piso plastificado do Navio tornou-se uma ratoeira para todos nós homens que estávamos habituados a ele mas não àquelas circunstâncias já que, raramente, os homens daquela Guarnição enjoavam e, assim, as quedas eram uma constante e dado os exíguos espaços de passagem e os apetrechos ali instalados, começaram as mazelas a aparecer… Não é que fossem de gravidade mas que doíam lá isso doíam…
Passados dias disto ter acontecido e como, entretanto, tinha morrido o Presidente do Conselho de Ministros, António Salazar e o Presidente da República tinha regressado a Lisboa em avião, reiniciamos a nossa etapa de regresso a Lisboa…
No dia seguinte e só com o pessoal de serviço em alerta e quando eram cerca de 5 horas da manhã, um barulho esquisito fez com todo o pessoal abandonasse seus leitos num ápice e a perguntar uns aos outros o que é que teria acontecido!
Ora, o torniquete que segurava a amarra junto ao Cabrestante com as pancadas que tinha levado na saída para a Ponta do Maio acabou por partir e toda a amarra de uma vez só, por não ter nada a segurá-la juntamente com o ferro de fundear foi num ápice até ao fundo do mar tendo antes disso feito um largo rombo junto à proa e no espaço consignado para Paiol das Tintas… Local onde muitos dos membros da Guarnição transportavam Serviços de Chã e de Café Chineses, para em Portugal venderem ou oferecerem aos amigos (Este foi o meu caso, ofereci à família e ainda, passados estes anos todos existem quase todas as peças, as quais iam no meu Cacifo, junto com outras coisas) os quais ficaram sem qualquer aproveitamento… E o navio ficou todo de esguelha virado para o lado donde se tinha soltado o ferro de fundear…
Não passou de um susto mas que foi um grande susto lá isso foi…
Comandante levantado junto ao Cabrestante e a ponderar todos os efeitos de tal problema… Mandou içar o Ferro e, depois de a amarra se encontrar toda em cima mandou, para não forçar o Cabrestante fazer uma amarra a todo o material com arame que no Paiol se encontrava…
Rumamos a Portugal e, ao passar junto às Ilhas Canárias o meu Comandante ainda tentou lá ir mas, como o outro era mais antigo tal não o permitiu e assim nenhum de nós teve a sorte de uma Ilha das Canárias vir a conhecer!
Chegados a Lisboa lá tivemos mais uma obrita para realizar… Tapar o rombo e arrumar as tintas que estavam espalhadas por todo o Paiol e que, muitas delas por terem rebentado as latas foi preciso apanhar… eram tintas grossas de piso e por isso deram muito trabalho não só as que se apanharam mas também aquelas que já tinham secado por acção das temperaturas ali estacionadas!
Marco de Canaveses, 28/07/2011 – 17H15 Armindo Loureiro – Ex-Mar. R nº 797/6
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Paquete Príncipe Perfeito (Fonte-http://restosdecoleccao.blogspot.pt/) |
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NRP ALMIRANTE MAGALHÃES CORRÊA |
NRP ALMIRANTE PEREIRA DA SILVA |
NOTA DO BLOGUER
Esta escolta vai continuar, com a Fragata Comandante João Belo, de Cabo Verde (Mindelo) até ao Arquipélago de S.Tomé e Princípe.
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Ilhéu das Rolas, ou Ilhéu Gago Coutinho, a Sul de S. Tomé |
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Bandeira Nacional de S. Tomé e Princípe |

A NRP COMANDANTE JOÃO BELO, zarpou de Luanda, em 09/07/70, pelas 07h45, rumo a Cabo Verde, tendo atracado, no Porto de S. Vicente,(Mindelo) em 16/07/70, pelas 09h00.
No dia 17, saiu para o mar pelas 08h00.
No dia 18, pelas pelas 18h00, deu-se o encontro com o Paquete Príncipe Perfeito, que seguia em viagem presidencial do CALM - Américo Thomaz para S. Tomé e Princípe, a fim de participar nas comemorações do "5º Centenário da descoberta do Arquipélago.
O Paquete Príncipe Perfeito, foi acompanhado, pela Fragata João Belo, durante os dias 19, 20 e 21.
No dia 17, saiu para o mar pelas 08h00.
No dia 18, pelas pelas 18h00, deu-se o encontro com o Paquete Príncipe Perfeito, que seguia em viagem presidencial do CALM - Américo Thomaz para S. Tomé e Princípe, a fim de participar nas comemorações do "5º Centenário da descoberta do Arquipélago.
O paquete vinha escoltado pelas fragatas "Almirante Magalhães Correia" e "Almirante Pereira da Silva" que, à vista, abandonaram as suas posições de formatura e foram substituídas pela "Comandante João Belo", que foi ocupar a posição de escolta a 1.000 jardas à proa do "Príncipe Perfeito", depois de ter salvo ao Presidente da República, com 21 tiros e ter passado a BB do paquete, com a guarnição formada em postos de honras militares.
Em 22/07/70, pelas 10h00, deu entrada na Baía Ana Chaves, tendo ali fundeado. Terminada a faina, desembarcou o Presidente da República e a Fragata João Belo salvou mais uma vez o Chefe do Estado Português. Permaneceu fundeada durante os dias 23, 24 e 25.
No dia 25/07/70 embarcaram a bordo da Fragata Cte João Belo, o Chefe do Estado, o Ministro do Ultramar, Dr. Silva e Cunha e altas entidades militares e civis.
No dia 26, às 07h00, zarpamos rumo ao Ilhéu dos Pássaros, fazendo a circum-navegação da Ilha de S. Tomé.
No dia 27, rumamos para a Ilha do Príncipe, tendo o nosso Comandante Leonel Cardoso, entregue o Comando do Navio ao Sr Presidente da República, CALM Américo Thomaz. Não chegamos a atracar ou fundear na Ilha do Príncipe, devido à notícia da morte do 1º Ministro Prof. Dr António Oliveira Salazar, pelo que tivemos que regressar a S. Tomé, onde nos mantivemos fundeados durante o dia 28.
Em 22/07/70, pelas 10h00, deu entrada na Baía Ana Chaves, tendo ali fundeado. Terminada a faina, desembarcou o Presidente da República e a Fragata João Belo salvou mais uma vez o Chefe do Estado Português. Permaneceu fundeada durante os dias 23, 24 e 25.
No dia 25/07/70 embarcaram a bordo da Fragata Cte João Belo, o Chefe do Estado, o Ministro do Ultramar, Dr. Silva e Cunha e altas entidades militares e civis.
No dia 26, às 07h00, zarpamos rumo ao Ilhéu dos Pássaros, fazendo a circum-navegação da Ilha de S. Tomé.
No dia 27, rumamos para a Ilha do Príncipe, tendo o nosso Comandante Leonel Cardoso, entregue o Comando do Navio ao Sr Presidente da República, CALM Américo Thomaz. Não chegamos a atracar ou fundear na Ilha do Príncipe, devido à notícia da morte do 1º Ministro Prof. Dr António Oliveira Salazar, pelo que tivemos que regressar a S. Tomé, onde nos mantivemos fundeados durante o dia 28.
O estado do tempo não permitiu que o CALM-Américo Thomaz desembarcasse no Ilhéu Gago Coutinho, ( ou Ilhéu das Rolas), onde uma placa com o nome deste grande cartógrafo assinala o equador geodésico. Cruzou quatro vezes a linha equatorial como forma de lhe prestar homenagem ( Gago Coutinho). Em S. Tomé, esperava um pequeno avião, que os ia transportar para a Luanda e daí seguirem rumo a Lisboa. As Comemorações só se efetuaram na Ilha de S. Tomé.
António da Silva Martins, Mar. Radarista nº 1330/66
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Monumento comemorativo da visita do Presidente da República de Portugal, nas comemorações do 5º Centenário da descoberta de S. Tomé e Príncipe. Cidade de S. Tomé 1970 |
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Ilha de S. Tomé Entrada para Vila das Neves, visitada pelo Presidente da Republica 1970 |
MOEDA COMEMORATIVA DO 5º CENTENÁRIO DA DESCOBERTA DE S. TOMÉ E PRÍNCIPE
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Frente |
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Verso |
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ILHA DE S. TOMÉ. vista parcial da cidade de S Tomé (1970) Partial view of the San Thomé Town |
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ILHA DE S. TOMÉ Pico Maria Fernandes (1970) Peak Maria Fernandes |
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S. Tomé Igreja da Sé (SÉC. XVI) 1970 |
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S. TOMÉ Praça João de Santarém (1970) |