2º ENCONTRO NACIONAL DAS GUARNIÇÕES DA FRAGATA JOÃO BELO F480 (1967 A 2008)
Tendo falecido com 51 anos de idade apenas, deixou um rasto de intervenção militar e
política notável, ao ter passado por momentos marcantes da vida da Nação, como a
pacificação de Moçambique no final do séc. XIX, a 1ª República, as campanhas
moçambicanas durante a 1ª Grande Guerra e a queda da 1ª República com a Ditadura
Militar.
- Nasceu a 27 Setembro de 1876, filho de militar, um Tenente Ajudante de Caçadores 6 aqui sediado, António Pedro da Costa Belo, oriundo de Peniche e que havia de chegar à patente de General. A mãe, a srª D. Antónia Júlia de Nazaré vinha de uma família ilustre, os Sousa Castro Nazaré, de Lisboa.Tinha assim, inscrito na sua genética a matriz militar, pois também o avô paterno fora oficial Comandante da praça de Peniche. Por curiosidade, um amigo de infância, nascido também aqui em Leiria e apenas um ano mais velho, Joaquim de Almeida Henriques, seria o grande desafiador para saírem muito cedo de Leiria a caminho da Escola Naval. Almeida Henriques, outro notabilíssimo oficial da Armada, acabaria por ter um percurso diferente de João Belo, no seu envolvimento político e na sua carreira militar. Enquanto João Belo seguia para Moçambique e ali fazia carreira, Almeida Henriques tornou-se num herói da causa republicana e foi o Comandante do 1º submarino português. Possivelmente, pelo menos na década de 20 quando ambos estariam em Lisboa, poderão ter voltado a encontrar-se, mas nada conhecemos sobre qualquer reencontro deste amigos de infância. O que se sabe, está descrito em vária documentação publicada. Em 1893, com 17 anos de idade, ambos se inscreveram na Escola Naval, tendo João Belo, dois anos depois, incorporado a guarnição da corveta “Duque da Terceira” e seguido para Moçambique, onde na região de Gaza, participou nas campanhas de pacificação onde outro quase conterrâneo natural da Batalha, Joaquim Mouzinho de Albuquerque, teve um papel de destaque como se sabe.
- Voltou de Moçambique em 1898 e no ano seguinte estava em Leiria, onde casou com 22 anos já como 2º Tenente, no dia 4 de Fevereiro de 1899 com D. Margarida Lopes Rebelo d’Andrade, de 21 anos e oriunda por via paterna de outra família de Lisboa, sendo pai o responsável pela obras públicas do Distrito de Leiria. Por via materna, vinha dos Lopes Vieira e dos Rodrigues Cordeiro, gente ilustre das Cortes, aqui bem perto. No entanto, a vida foi madrasta e dois anos após o casamento, em 1901, João Belo enviuvaria, sem filhos deste casamento.
- O destino de saída estava traçado e no ano seguinte rumava novamente a Moçambique onde permaneceria longos anos. O que fez enquanto ali permaneceu, também é conhecido. Voltou a Gaza e ao Limpopo, e em 1909, foi nomeado Administrador do Concelho do Chai-Chai e Chefe da Delegação Marítima de Inhampura. Em 1910 foi encarregado da construção do caminho de ferro de Xai-Xai a Manjacaze. Durante a sua administração foram ainda realizados o levantamento hidrográfico da foz e barra do rio Limpopo, a construção do farol do Inhampura e a Câmara Municipal do Xai-Xai.
- Xai-Xai, viria a ser a Vila João Belo até à independência de Moçambique. Já casado em 2ªs núpcias com D. Beatriz Belegarde, de quem viria a ter 4 filhos, entre 1914 e 1918, estava no Niassa dando apoio às expedições de limpeza e resguardo das ofensivas alemãs que nas colónias começaram muito antes de 1916, quando se deu a declaração de guerra entre Portugal e a Alemanha, na Europa. Eram conhecidas as ambições alemãs pelas possessões portuguesas, com objectivo do domínio da África a sul do Equador para se sobrepor à presença inglesa no norte.
- As campanhas de Moçambique foram muito duras e quase anónimas durante longos anos, a não ser numa referência ou outra, tanto mais que as tropas idas da Metrópole iam mal armadas e com uma retaguarda demasiado desguarnecida. João Belo ali esteve, tendo merecido a comenda da Ordem Militar de Avis, ao tempo do um Ministro das Colónias também conterrâneo e quase da mesma idade, João Soares.
- Depois da guerra voltou a Gaza como Chefe do Departamento Marítimo e veio a fazer carreira na Administração Colonial até 1925. Não só estaria desiludido com a política ultramarina republicana, como a própria república abrira sequelas, com a intervenção na guerra, difíceis de sanar.
- A 25 de Maio de 1925 foi feito Comendador da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, mas de regresso a Portugal, integrou a Direcção dos Serviços de Hidrografia e Navegação.
- Como muitos republicanos desiludidos, juntou-se ao movimento do 28 de Maio tendo em 9 Julho de 1926 sido nomeado Ministro das Colónias, ao tempo de um outro oficial da Armada, Filomeno Cabral, quando este substituiu Salazar numa fugaz primeira passagem que teve pela pasta das Finanças. Era este um Ministério chave do novo regime, para contenção de verbas e para controlo de toda a ação política. A consonância dos restantes Ministérios com as Finanças passou a ser cada vez mais um aspeto incontornável. Filomeno Cabral também não se manteria por muito tempo e até 1928 a agitação política continuou a ser grande. No entanto, João Belo manteve-se até 28 de Novembro de 1927, altura em que saiu já debilitado, não deixando de ter, entretanto, acumulado por pouco tempo e como interino a pasta da Marinha. Em pouco mais de um ano em maré política turbulenta, acabou por demonstrar uma ação política notável
- Conhecedor das colónias e de todos os problemas que as afetavam, pouco defensor da política tendencialmente descentralizadora republicana, não só pelos receios de demasiada autonomia como pelos custos inerentes a um desenvolvimentismo não controlado pela Metrópole, apesar da grande bandeira republicana ser a ação de Norton de Matos em Angola. Mesmo assim, no dizer do Prof. Nuno Sotto Mayor Ferrão, as Bases Orgânicas da Administração Colonial de 1926 incrementadas pelo Ministro João Belo, procuravam assegurar o que era fundamental conciliar na eficiência do sistema com o princípio republicano de descentralização administrativa. Deste modo, apesar de acusado por muitos de uma política centralizadora, propôs que fossem implementados alguns princípios da descentralização e da autonomia financeira das colónias, embora se devesse aplicar, para salvaguardar a eficácia do sistema, o preceito de rigorosa superintendência e de fiscalização pela metrópole. João Belo criou ainda os bancos emissores de Angola e de Moçambique e o Conselho Superior das Colónias e reorganizou a Escola Superior Colonial de Lisboa. Para além da Comenda de Avis, recebeu a de Valor Militar e a Torre e Espada.
- Todavia, faleceu cedo, em Lisboa, a 3 de Janeiro de 1928, com o posto de Capitão de Fragata, tendo sido homenageado com as devidas honras militares. Está sepultado no cemitério do Alto de S. João, tendo a Câmara de Leiria contribuído para o mausoléu, na altura com um conto de reis. Ainda nesse ano, deliberou atribuir o seu nome a uma rua do centro da cidade, num quarteirão onde a toponímia dá a primazia a nomes republicanos. A rua Comandante João Belo, hoje secundária, era na altura uma das ruas centrais e fica perto da Rua Comandante Almeida Henriques. Tão perto mas com percursos diferentes. No entanto, ambos brilhantes.
- Texto do Historiador Dr Acácio de Sousa
- Leiria, 27 de Setembro de 2014. ( 138º Aniversário do nascimento do nosso Patrono Cte João Belo)
Professor de Educação Física e ex Tenente da Marinha, Nuno Bello. neto do nosso Patrono, Cte João Belo, a ser cumprimentado pelo Sr. Vice Presidente do Município de Leiria, Dr Gonçalo Lopes |
Grupo, seus familiares e amigos |
Alguns dos elementos presentes, da 1ª Guarnição |