terça-feira, 13 de março de 2012

FRAGATA JOÃO BELO PELA PRIMEIRA VEZ EM PORTUGAL

 CAPÍTULO III   (P2)      




FRAGATA JOÃO BELO - PELA PRIMEIRA VEZ EM PORTUGAL
A SUA RECEPÇÃO EM LISBOA

                                               



Zarpou de Lorient, França,  em 05/12/67, rumo a Lisboa, onde atracou em 07/12/67. A Fragata Comandante João Belo, quando chegou a Lisboa, foi festivamente recebida. Os Ministros da Defesa e da Marinha, respetivamente o GEN Gomes de Araújo e o VALM  Quintanilha de Mendonça Dias, foram os primeiros membros do Governo a visitar o navio. Alguns dias depois, encontrando-se o navio atracado ao cais exterior da doca da Marinha, recebeu, primeiro o Presidente da República, ALM Américo de Deus Rodrigues Thomaz  e posteriormente , o Presidente do Conselho, Dr Oliveira Salazar, ambos acompanhados pelo Ministro da Marinha, sendo recebidos com as devidas honras militares, quer em terra, quer a bordo.






Ministro da Defesa - Gen. Gomes Araujo e Ministro da Marinha,
VALM Quintanilha de Mendonça Dias 

           



 






Almirante Quintanilha de Mendonça Dias






Dr Oliveira Salazar, que raramente deixava S. Bento, não resistiu a fazer uma visita 
















à Fragata João Belo (1967)



ALM  AMÉRICO THOMÁS 




VALM  QUINTANILHA DE MENDONÇA DIAS






NOTA:- AS PRIMEIRAS 4 FOTOS FORAM PUBLICADAS NO BLOGUE "A VOZ DA ABITA" NA REFORMA QUE FORAM GENTILMENTE CEDIDAS PELO EX-1º TENENTE JOAQUIM GONÇALVES VINTÉM, DA 1ª GUARNIÇÃO DA FRAGATA COMANDANTE JOÃO BELO

segunda-feira, 12 de março de 2012

A DECISÃO DA CONSTRUÇÃO DA FRAGATA JOÃO BELO




SUGESTÃO: - Para que os nossos visitantes possam apreciar melhor, qualquer foto, podem fazer a sua ampliação, carregando com o botão esquerdo do rato, em cima da foto.



FRAGATA "COMANDANTE JOÃO BELO" - COMO E PORQUE APARECEU



A Fragata NRP "Comandante João Belo-F480" na Doca Seca em Durban, South  Africa,
(Foto gentilmente cedida por António Moleiro)




O Bota-Abaixo da Fragata João Belo, em
Nantes-França, em 22/3/1966


No  âmbito das necessidades do governo português, se apetrechar  e modernizar, com navios de guerra,em face da situação ultramarina, a Marinha de Guerra Portuguesa, nosanos sessenta, estava interessada na aquisição de fragatas inglesas, da classe "Leander", mas por oposição política, foi inviabilizado tal projecto.A urgência que Portugal tinha na aquisição de meios navais, que servissem a sua afirmação de soberania, em águas do Continente Africano, sobre a sua alçada, e no extremo oriente com Macau e Timor, foi forçado a abandonar a primeira opção e decidiu-se por um projecto já feito, voltando-se para França, iniciando-se deste modo as negociações do Governo Português, com os franceses.
Como Portugal, não tinha por objectivo enfrentar-se com navios de marinhas inimigas mas sim exercer a sua soberania, exibindo a bandeira e agir contra a utilização das águas territoriais, por forças opositoras, decidiu negociar com a França a compra de quatro fragatas tipo "Comandante Revière". O projecto deste tipo de fragatas era da década de 1950, como escoltadores oceânicos, com características de habitabilidade aos climas tropicais.
Em 1964, a Marinha de Guerra Portuguesa encomendou quatro navios desta classe, a serem construídos num estaleiro de Nantes (Chantiers de L'Atlantique), a primeira das quais entrou ao serviço, a João Belo, em 1967 e a ultima, Sacadura Cabral, em 1969.

A Fragata João belo, foi lançada à agua em 22/03/1966, tendo, alguns dias depois deixado Nantes, por meios próprios, rumo a Lorient, a fim de pôr à prova as suas capacidades.

Em 01/07/1967, realizou-se, a cerimónia de entrega da Fragata João Belo, à Marinha de Guerra Portuguesa, na Base Naval Francesa de Lorient. Ao largo deste porto realizaram-se as experiências de máquinas, provas de tiro, exercícios de reabastecimento, calibração de radares, sonar, goniómetro e treino da guarnição, previstos no programa de recepção. 

A NRP COMANDANTE JOÃO BELO, já com bandeira Portuguesa, largou de Nantes em 05/12/67 tendo chegado a Lisboa em 07/12/1967.

Os navios da classe JOÃO BELO, substituíram as fragatas DIOGO GOMES e ALVARES CABRAL (Ex-River e Bay, britânicas).

Com as fragatas, tipo "João Belo", apoiadas pelas corvetas das classes "Baptista de Andrade" e "João Coutinho", já era possível cumprir a missão inicialmente idealizada por Portugal.

As fragatas não estavam equipadas com mísseis, quando começavam a ser norma nos navios principais das marinhas europeias, mas naturalmente, este tipo de navio, embora europeu, não era considerado, pelos franceses, como navio principal, a razão do seu armamento ser inferior.

Estes navios, na prática, substituíram as fragatas inglesas do período da II Guerra Mundial, da classe "Alvares Cabral", que foram adquiridas por Portugal em 1959.

Antonio da Silva Martins ( Ex-Mar. Rad. 1330/66)


Chantiers de L'Atlantique" - FRANCE
(Estaleiros, onde a Fragata João Belo foi construída)


Plano da Fragata  João Belo


Painel de Controlo na Casa das Máquinas da Fragata João Belo
(Foto enviada por António Santos) 


Hélices da Fragata Cdte João Belo
( A sua medida entre pás, é de 1,70 m)
"Foto de Afonso Leal"



SEDE DA DIRECÇÃO DE ABASTECIMENTOS (LISBOA)- HÉLICE DA FRAGATA JOÃO BELO


Depois de uma árdua labuta para alguns camaradas descobrirem a que navio pertenceu este hélice, vendo a foto na página da Marinha Portuguesa, aqui fica também nesta página. 

Na placa, que está em baixo, em cima das pedrinhas, está escrito:

"N.R.P. COMANDANTE JOÃO BELO

1 DE JULHO DE 1967

10 DE MARÇO DE 2008"

No próprio hélice está gravado, entre outras coisas:

"FUSION: 364E DU 19-1-67

SOCIETE NANTAISE DE FONDERIES"

Foto: ©2012 Francisco Santos


FOTO GENTILMENTE CEDIDA POR  FRANCISCO SANTOS(MARÇO DE 2012)


Parte da Guarnição da Fragata João Belo, assiste a um desafio de Futebol,
em LORIENT - França (1967)

FOTOS DE ALGUNS CAMARADAS DA 1ª GUARNIÇÃO, EM LORIENT-FRANÇA.

LORIENT - FRANÇA (Antes da entrega da Fragata João Belo a Portugal)
Da esquerda o Cabo F - Aníbal Raimundo Gomes ao meio o
Mar. F Cerejeira. (1967)
Foto cedida por Jorge Santos.
NOTA: A cerimónia de entrega da Fragata João Belo, à Marinha de Guerra de Portugal, realizou-se em Lorient-França, em 01 de Julho de 1967

Mar F Cerejeira
 

(?)



JOÃO PRATAS (O MONTIJO)
















Grum F  ?

Carrasquinho

















Mar E JOSÉVIEIRA


Carlos Ferreira

Mar A  ?






Mar. F  ?








LORIENT (Morbihan)-France
Jardin de la Banane (1967)



Artigo publicado na Revista da Armada
 pelo Sarg.  Escr. MANUEL DA CONCEIÇÃO HORTA
(1ª Guarnição da Fragata João Belo)


Notícia sobre a fragata João Belo, publicada num Jornal francês em 1967.
(Documento, gentilmente cedido, por JOÃO MONTES SALGADO)





NRP "COMANDANTE JOÃO BELO" - O SEU ANIVERSÁRIO DE ASSINATURA DO CONTRACTO PARA A SUA CONSTRUÇÃO
24/09/1964 ( ESTE ANO IRÁ ASSINALAR O SEU 48º ANIVERSÁRIO)


1ª PÁGINA


2ª página
ESTE  TEXTO  É INTEGRALMENTE, da  autoria de
PAULO MENDONÇA, publicado em 10-09-2004.






HOJE, DIA 22 DE MARÇO DE 2012, A NRP "COMANDANTE JOÃO BELO", COMEMORA O 46º ANIVERSÁRIO DO SEU LANÇAMENTO À ÁGUA, EM NANTES-FRANÇA (22/03/1966)


Comemoração do 40º Aniversário do seu lançamento à água, festejado com alegria e
orgulho por elementos da sua 1ª Guarnição.
A sua entrega a Portugal, hasteando a Bandeira Nacional pela 1ª vez, foi em 01/07/1967

NRP "CTE JOÃO BELO"

domingo, 4 de março de 2012


Este navio da Marinha de Guerra Portuguesa,permaneceu em Macau, desde 14/03/70  a 24/03/70, na Ponte Nova, do Porto Exterior de Macau.

Deste porto, zarpou, rumo a Timor, passando por Hong Kong, onde se foi abastecer de combustível e alimentos.


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DESTE BLOG



BLOGUE  DA
FRAGATA COMANDANTE JOÃO BELO - O 
SEU 1º ANIVERSÁRIO


Torre de Belém  -  Lisboa  -  PORTUGAL
(economico.sapo.pt)


GRÁFICO ELABORADO E GENTILMENTE CEDIDO A ESTE BLOGUE, PELO CAMARADA  VICTOR MOREIRA.






ESTE TRABALHO FOI GENTILMENTE ELABORADO E CEDIDO PELO JOVEM ADMIRADOR DESTE  BLOGUE, JOÃO SILVA - FAFE (PORTUGAL)



FAZ HOJE UM ANO, QUE UM POUCO TIMIDAMENTE, ABRI ESTE BLOGUE, PENSANDO, NA DIFICULDADE QUE PODERIA TER COM A  FALTA DE FONTES DE INFORMAÇÃO.

COM A CONTINUIDADE, COM A EXPERIÊNCIA ADQUIRIDA E COM MUITA DEDICAÇÃO, CONCLUÍ QUE VALEU A PENA, TODO O MEU ESFORÇO AO LONGO DESTE TEMPO! A COLABORAÇÃO DE ALGUNS  AMIGOS E CAMARADAS DE ARMAS, TAMBÉM CONTRIBUÍRAM PARA ENGRANDECER ESTE ESPAÇO INFORMATIVO, PENSO EU, QUE COM ALGUMA QUALIDADE.


PARTILHO ESTE PRESENTE, COM TODOS OS VISITANTES E COM QUEM COLABOROU COM  ESTE BLOGUE, PORQUE SEM ELES, O SUCESSO NÃO TERIA SIDO TÃO ACENTUADO.
ESTAMOS COM 10.441 VISITANTES, O QUE ULTRAPASSA EM MUITO OS MEUS OBJECTIVOS.

António da Silva Martins



A Fragata Comandante João Belo , rasgando as águas do Oceano, para  atingir com sucesso o seu destino
( Foto enviada por  LINO SILVA)














sábado, 28 de janeiro de 2012



FRAGATA JOÃO BELO 

 Uma história de Marinha e de
Marinheiros


A Fragata João Belo, navegando em mar calmo

ANTES DE INICIAR A PUBLICAÇÃO DO NASCIMENTO DA FRAGATA COMANDANTE JOÃO BELO, VAI SER FEITA A NARRAÇÃO DE UMA HISTÓRIA VERÍDICA, ESCRITA POR UM MARINHEIRO DA 1ª GUARNIÇÃO (1967-1970).
É UMA HISTÓRIA QUE TEM UM INICIO DIVERTIDO E UM FINAL TRISTE!

ESTE ACONTECIMENTO TEVE O SEU INÍCIO NA ESCOLA Nº1 DE ALUNOS MARINHEIROS DA ARMADA, NA RECRUTA, NUMA AULA DE NATAÇÃO E TERMINADA NA FRAGATA JOÃO BELO, NA GUINÉ.


ESCOLA Nº 1 DE ALUNOS MARINHEIROS DA ARMADA ( Vila Franca de Xira-1967)
(Foto propriedade do blogger)

G1 EAM - Vila Franca de Xira-1970
Grupo 1 de Escolas da Armada, em Vila Franca de Xira-1970
G1 EAM - Vila Franca de Xira



O GORDO E ABRIL
(FZE)

BOINA DE FUZILEIRO (fuzileirosparasempre.blogspot.com)


NOTA DO BLOGGER:- Este texto não é só uma história, é acima de tudo uma grande homenagem a um camarada de armas falecido em combate, na Guiné.



… Vinte e três! O mancebo mergulha, dá algumas braçadas e sai da piscina. Vinte e quatro! Outro, e a cena repete-se. Vinte e cinco! Um matulão forte, atarracado, cara bolachuda e avermelhada, braços e pernas entreabertos, de olhos fixos na água não cumpre a ordem. Passados uns instantes, o cabo Rodrigues, mais alto, repete: Vinte e cinco! Mas o vinte e cinco, petrificado, continua absolutamente imóvel. O instrutor olha-o atentamente e interroga: então pá! Tens medo? Ainda não tinha acabado a frase e, finalmente, o Gordo (alcunha com que inevitavelmente fora baptizado) atira-se de chapa, meia piscina transborda e a Companhia irrompe numa risada geral. A barafustar e aos gritos, ergue-se, com água por debaixo dos braços, bate com toda a força, engasga-se, grita e toda a malta, com excepção do cabo Rodrigues, ri perdidamente. O cabo da companhia que até era bastante calmo, perante tão insólito comportamento e gáudio geral, num misto de irritação e surpresa, grita poderosamente: silêncio! E para o Gordo: Tem calma! Não batas na água! Tem calma! Calma! E repetia com toda a força mesmo junto dele, calma! Não batas na água! E o Gordo, com água a entrar-lhe pelo nariz e pela boca, cada vez mais desesperado não via nem ouvia ninguém. Até que o cabo Rodrigues, já em silêncio, assim como toda a Companhia, entrega a pauta a um recruta, descalça-se num ápice e mesmo vestido, atira-se à piscina, e com grande dificuldade, lá consegue acalmar e remover o aflitíssimo grumete.
Perante tão desastrada prova de natação, lógico, seria supor-se tratar-se o seu protagonista de uma pessoa desequilibrada e medrosa. Puro engano! Ao longo da recruta, provou exactamente o contrário. Aprendeu a nadar na perfeição, esforçava-se ao máximo e conseguia cumprir, quase sempre entre os primeiros, mesmo nos exercícios e provas mais difíceis. Era, isso sim, um jovem brioso, determinado, forte e com um enorme espírito de sacrifício que, por consequência, no final da recruta, já pouco justificava a alcunha. 
Natural de uma aldeola ali para os lados das Caldas da Rainha onde os pais possuíam uma típica taberna & mercearia, nos fins-de-semana em que ia a casa, era uma alegria! Vinha sempre carregado com chouriços, queijos, fruta, pão caseiro. A malta abonava-se, e a meio da semana, nem o cheiro! 
Bonacheirão, alma a condizer com o corpanzil e o pessoal com a irreverência própria da idade, cheio de sangue na guelra, abusava. Havendo um trio que se destacava: o Feijó, o Ruço e o Viana. Além de serem os primeiros a abotoarem-se com os mimos que a mãe lhe aviava, pregavam-lhe tantas partidas que aquele mar de calmaria começou a dar mostras de que afinal poderia encapelar-se. Tornar-se mesmo, numa violentíssima borrasca. Um dia, depois de já lhes ter mandado uns berros para que o deixassem em paz, à noite, estando a preparar-se para se deitar, vem o Ruço da casa de banho com as mãos encharcadas, pé-ante-pé, e zás! Nas costas do Gordo. Vira-se num ápice, o ruço esquiva-se, mas não consegue evitar uma poderosa patada que o faz estatelar-se fragorosamente contra os armários. A malta acorre, e o impertinente, dorido, acabrunhado, levanta-se. Nisto chega o Viana e o Feijó. Mais animado, ensaia uma indecisa investida. O Gordo, furioso, berra-lhe: ah queres mais?... E vai-se a ele outra vez. Os outros dois tentam intervir, o Feijó fica imediatamente fora de acção com um violentíssimo soco na cara, o Viana bate em retirada e o Ruço tenta fazer o mesmo mas não consegue. È filado pelo pescoço com as duas mãos e içado. Entretanto, quase toda a companhia encavalita-se por cima das camas, uns sobre os outros, ou espreitando por qualquer nesga para não perder pitada do inesperado espectáculo. E o Ruço, com a cara vermelha que nem um tomate, qual marioneta, esperneia, tenta separar as mãos do Gordo, mas, evidentemente, em vão. A poderosa tenaz vai-o asfixiando. Começa a perder as forças e a malta o entusiasmo. Levantam-se vozes a dizer que já chega, que o largue. Mas o Gordo, fora de si, não abranda. A gritaria é cada vez maior e alguns agarram-lhe os braços tentando abri-los, dão-lhe murros, pontapés, nada! O Ruço começa a ficar roxo e já mal se mexe. O pânico é geral. A tragédia iminente. Até que o Moura, que estava de plantão, providencialmente, teve uma ideia genial: desembainha o sabre, e zás! Crava-lhe o bico numa nádega. O colosso enraivecido Solta um berro lancinante, abre os braços, e o “desgraçado”, num farrapo, estatela-se no chão.
Evidentemente que todo este sururu agravado ainda pelo facto do Feijó ter ido parar à enfermaria com um sobrolho aberto, teve que ser participado pelo Moura. Todos chamados ao Comandante de Companhia que lhes passou um valente raspanete e o corte de três fins-de-semana. Escusado será dizer que nunca mais ninguém gozou o Gordo. Mas como aquilo não era malta de rancores, os ressentimentos duraram pouco.
Terminada a recruta, seguiu-se a instrução técnica elementar (ITE) das diversas especialidades. Eu fui um dos que continuaram com o Gordo. Fomos para a Escola de Máquinas. Terminado o ITE, separámo-nos finalmente. Ele foi destacado para um draga-minas, o “S. Roque” e eu para um patrulha, o “ Maio”. Mas continuámos a ver-nos com frequência.
Um dia, fui ter com ele ao S. Roque, jantámos os dois e fomos para Lisboa. Rumámos ao Bairro Alto, calcorreámos becos e vielas, bebemos uns copos, divertimo-nos com as meninas e regressámos à Base na última vedeta. Mas andava aborrecido. O S. Roque navegava muito e ele enjoava ainda mais. “ Não nasci para isto pá! Sou bicho de terra “. E disse-me que andava a pensar concorrer aos fuzileiros. Tentei dissuadi-lo. Missões perigosíssimas esperá-lo-iam na Guiné, no Niassa ou no Leste de Angola. Determinado como era, não me deu ouvidos. Passado algum tempo, foi mesmo para Vale de Zebro onde concluiu com distinção o curso de fuzileiro especial, integrou uma companhia e partiu para a Guiné. E eu, para Lorient, França. Completar a guarnição da fragata “ Comandante João Belo” que ali perto, em Nantes, havia sido construída para a nossa Armada.
Tempos depois, a “João Belo” fez uma viagem à Guiné. À nossa chegada a Bissau, estava uma grande comitiva que vinha saber as últimas da Metrópole, dar-nos um abraço, conviver connosco. Eram camaradas nossos das guarnições do Comando Naval, dos Patrulhas, das Lanchas de Desembarque e das Companhias de fuzileiros ali estacionados em comissão de serviço. O Gordo não apareceu. Numa roda de amigos, perguntei porquê. Estaria de serviço? Estaria no mato? Ninguém respondeu e o semblante dos nossos amigos mudou radicalmente. Passados uns instantes, o Almeirim (um marinheiro fuzileiro telegrafista filho da minha escola) disse: ah vocês ainda não sabem?!... Fez menção de continuar, mas calou-se e foi sentar-se num cabeço de olhar perdido na imensidão do Atlântico.
Em contraste com o doce marulhar da leve ondulação beijando o costado da “João Belo”, longínquo, do negrume da mata e da bolanha, chegava-nos mortiço, o lúgubre crepitar da metralha.
Tenso, nervosíssimo, encharcado em suor, lentamente, o Almeirim levantou-se, aproximou-se do grupo e murmurou: numa emboscada… A voz embargou-se-lhe, as lágrimas que tentava reter, brotaram abundantes e explodiu num choro profundo. Convulsivo.
Amparámos o amigo, chorámos o outro e amaldiçoámos a guerra.
A primavera marcelista não dissipava as trevas do longo inverno salazarista e, também ali, Abril raiava.


Francisco Ramalho, ex marinheiro CM, o “Farinha”
Corroios, Março de 2010

Cerimónia de transferência das fragatas da classe João Belo

Crédito:-  #marinhaportuguesa     https://youtu.be/CT6AobEi6IY