quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Convívios em Sydney.





Baile convìvio oferecido, a todas as guarnições dos navios representadas nas Comemorações,
pela Marinha Australiana.(1970)





                                                           
                                           A Ponte que atrvessámos para o subúrbio GLABE.






                                    BAILE CONVÍVIO 







A nossa estadia em Sydney prolongou-se por sete dias na sua maioria ocupados por convites para eventos, de diversas entidades oficiais, militares e civis.
Além dos convívios que as fotos representam, outros se sucederam, dos quais não consegui registos fotográficos.
Resta-me portanto, falar sobre as que foram publicadas.
 Na foto acima deste texto, refere-se a um baile, cujos convites foram enviados para bordo de todos os navios, representados nas Comemorações do Captain Cook, mas racionados. Competia ao Comandante de cada navio fazer a sua distribuição pela sua guarnição.
No meu grupo de três amigos, que habitualmente saiamos juntos, o Magalhães foi o único a quem foi distribuído um convite para o respectivo baile, que tinha início pelas 22h. Ao Martins saiu-lhe um convite, para um passeio turístico pela cidade. Ao nosso amigo Salgado, não me recordo da sua sorte nesse dia.
Como só o Magalhães tinha convite para o baile, combinei com ele um encontro junto à porta de entrada, onde se realizava esse evento, penso que na Base Naval da Marinha Australiana.
As entradas eram controladas para verificarem os convites. Como o Martins, não era possuidor de título válido, foi-lhe barrada a entrada, e o meu amigo Magalhães, foi solidário com o seu camarada e não entrou.
Como falava um pouco de inglês, passado algum tempo, fui sensibilizar o controlador, sobre a má situação em que iríamos ficar. A sua consciência abriu-se e lá cedeu à nossa vontade! Retribui-lhe, o favor, com um grande abraço e um aperto de mão.
Quando entrámos naquele mega salão, disposto sobre o comprido, ocupámos uma mesa deserta, com diversas cadeiras, onde nos acomodamos, estudando e apreciando o ambiente formado por muitas culturas e línguas diferentes.
Os homens eram todos marujos e fardados. Da parte feminina, não se avistava alguém com farda, mas soubemos que umas eram marinheiras e outras funcionárias da base.
As bebidas eram oferecidas até às 01h00, a partir desta hora, tudo o que se consumisse seria a pagar.
Na nossa mesa, como sobravam lugares, juntaram-se a nós três marinheiros franceses, dois dos quais, eram conhecidos do Magalhães, da Base Naval em Lorient, onde foi construída a Fragata João Belo.
Na nossa frente, estava uma mesa com marinheiros ingleses da Royal Navy, acompanhados de algumas beldades femininas, as quais se encontravam de frente para nós.
Não tardou muito tempo, talvez por efeitos da bebida, que se iniciou alguma confusão, originando a que duas dessas beldades, desertassem dessa mesa, para se juntarem a nós. Uma sentou-se ao meu lado e a outra ao lado do meu amigo!
Quando sentimos que a companhia feminina, nos tinham preferido, talvez por serem só dois portugueses, o Magalhães, amigavelmente solicitou aos marinheiros franceses, que procurassem outro lugar, ao que eles muito compreensivelmente responderam, abandonando os lugares que ocupavam.
Enquanto os marinheiros ingleses ainda barafustavam na nossa direcção, optamos por nos levantar e seguir para a pista de dança, onde permanecemos durante bastante tempo, dançando ao som de uma Orquestra de Sydney.
Seriam 04h30, quando as nossas amigas decidiram convidar-nos a abandonar o baile e dar um passeio matinal pela cidade. Aceitámos o convite e lá fomos para a viatura.
Não posso dizer se gostei ou não do passeio, porque nem sequer sabia onde andava! Lembro-me de termos passado a ponte sobre o Rio Parramata, próximo do porto, e que do nosso lado direito ficava a “Opera House”, em direcção ao subúrbio Glabe.
Comemos alguma coisa, num posto de abastecimento de combustível e de seguida, pensando nós, que nos iriam levar para bordo, mudaram de rumo e alguns minutos depois estávamos a entrar numa vivenda!
Escusado seria dizer, que não tivemos outra hipótese, senão acompanhar as nossas amigas, e por lá fomos permanecendo até que nos trouxessem para bordo da Fragata João Belo. Não tivemos tempo para dormir! Estávamos preocupados, porque, devíamos estar a bordo à meia-noite e não tínhamos pedido a dispensa de recolher!
Já eram 08h00, quando elas decidiram levar-nos para bordo, já com o pequeno-almoço tomado.
Chegamos ao cais e largaram-nos próximo do portaló. Verifica-mos que do outro lado íamos ser recebidos pelo Oficial de dia! Não contávamos com uma recepção tão importante… O Magalhães ainda se apresentava, mais ou menos decente, mas o Martins, não tinha o uniforme completo! Faltavam; um sapato, o alcahce, a fita do boné e a manta de seda.
Apresentámo-nos, a grande custo, naquela triste figura, ao Oficial de dia, e já a pensar num forte castigo.
Fomos chamados ao Oficial, que tinha acabado de ser rendido, para justificar-mos o nosso estado e o atraso do recolher a bordo. Não havia desculpas nem justificações plausíveis. Eu, como estava em pior estado de apresentação, fui o 1º a ser ouvido, mas sempre na presença do outro personagem.
Tive que inventar uma história, para ver se pegava. E então disse; "Senhor Tenente, ontem eu e o Magalhães, não esperávamos vir tão tarde, mas fomos a um baile e a certa altura, fomos convidados por duas amigas, que dançaram connosco, a entrar na sua viatura, o que nós aceitamos, sem vacilar!!! A partir daí, passámos a estar à disposição delas, como reféns! Só nos libertaram à hora que nos apresentámos ao Senhor Tenente! Portanto isto até foi um rapto!"
O Magalhães nem chegou a ser ouvido. Após as minhas declarações ao Oficial, ele sorriu-se, dizendo para termos mais cuidado com esse tipo de raptos e lá nos absolveu! Que sorte termos encontrado um Oficial de dia com tal carácter.
Pois é. Isto não ficou por aqui! Antes do meio-dia, já as nossas amigas estavam junto ao portaló à nossa espera para irmos almoçar.
Após o Almoço levaram-nos até à casa dos seus familiares, a quem fomos apresentados.
Estávamos um pouco inibidos com esta situação, mas os próprios pais nos puseram à vontade, oferecendo um grande lanche, sorrisos e umas anedotas. E no final um grande abraço de despedida.
Caros amigos, em 1970, na Austrália, já as liberdades femininas, eram bem aceites pela família e toda a sociedade em geral.
Mais uma estória verídica passada na minha juventude, a bordo da Fragata Cte João Belo.
António da Silva Martins, Mar. Radarista nº 1330/66


Quatro amigas, na Austrália, que gentilmente se deixaram fotografar, com a condição da nossa ausência na foto!!!
Só ficou a nossa marca no campo inferior direito!!!
(1970)


                                  

Ponte sobre o Rio Parramatta em SYDNEY.
(Imagem da Wikipédia)


                      
                                                         OUTRO CONVÍVIO


Convivio, a  bordo,  com a Comunidade Portuguesa.

  





         CONVÍVIO NA FRAGATA, COM A COMUNIDADE PORTUGUESA EM SYDNEY



Por convite do Consulado Português em Sydney, certo dia, a Fragata Cte João Belo, abriu o seu portaló à Comunidade Portuguesa, residente em Sydney e cidades limítrofes.
Foi mais uma manifestação de consideração e apoio, por parte das autoridades consulares e da guarnição da Fragata, a toda a Comunidade Portuguesa emigrada na Austrália. Este acto, foi repetido noutros portos australianos.
As visitas a bordo, eram organizadas em grupos e guiadas por elementos da guarnição.
A certa altura, alguns grupos começaram a desmantelar-se, com a ausência do seu guia, e os desamparados, juntaram-se a outros até chegarem ao refeitório, o nosso ponto de encontro!
De todos os visitantes, alguns decidiram permanecer a bordo, e outros seguiram o seu destino.
Os que ficaram, talvez por saudades e necessidade de comunicar, prolongaram a sua permanência, por mais algum tempo, mais propriamente no refeitório, (a nossa sala de visitas)!
Como todo o marinheiro é hospitaleiro, resolvemos oferecer cervejas e outras bebidas fresquinhas aos presentes.
O convívio foi animando e alguém se lembrou em arranjar um petisco, para acompanhar a bebida! Como queríamos surpreender os nossos amigos emigrantes, tivemos, em boa hora, a ideia de falar com o Aurélio Nunes Mendonça, o cozinheiro de bordo, muito “bacano”, para nos arranjar bacalhau à Brás. Cedeu ao nosso pedido, chamou o “Totó”, seu faxina, e deitou mãos à obra!
Após a confecção do petisco, servimos os nossos amigos visitantes, em pequenos pratos, com “pikles”,  azeitonas e pão. O Aurélio também se juntou ao grupo. Os emigrantes ficaram radiantes com tal simpatia de os presentear com um prato tipicamente português.
As famílias presentes, quase todas vinham acompanhadas de seus filhos/as e outros parentes.
Durante o repasto, com o dialogo mais animado, lá íamos sabendo o que cada um fazia na Austrália, (Sydney e outras cidades costeiras). Na maioria eram empresários na área piscatória, com frotas de barcos de pesca e outros na comercialização do produto pescado.
Terminado o convívio, os nossos amigos seguiram a sua vida e nós planeamos a nossa saída nocturna.
Devido à amizade criada no convívio, alguns companheiros com mais sorte, quando saímos para terra, já tinham no cais viaturas à sua espera, próximo do navio.
No dia seguinte, o Oficial de dia, notou que a guarnição estava incompleta! Dois dos nossos camaradas não regressaram. O Mar. Clarim e um Grumete Manobra.
Como não apareceram até à hora da saída do navio, o Comandante resolveu adiar por duas horas a saída, na esperança que aparecessem. Como isso não aconteceu, foram considerados desertores, e o nosso Comandante deu conhecimento do assunto às autoridades locais.
Zarpámos de Sydney, em 01/05/1970, rumo a Brisbane (Austrália), onde atracamos em 03/05/70.

Prato tipicamente Português
BACALHAU  À  BRÁS


António da Silva Martins, Mar. Radarista nº 1330/66.













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Cerimónia de transferência das fragatas da classe João Belo

Crédito:-  #marinhaportuguesa     https://youtu.be/CT6AobEi6IY